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Enviada em: 26/05/2018

O poeta Ferreira Gullar disse: "a arte existe porque a vida não basta". Esse pensamento que reflete a função ontológica da arte é deveras importante no que concerne a quais regras os artistas devem restringir-se no ato da criação. Nesse sentido, depreender se há limites ou não no mundo da criatividade é compreender o processo criativo como espelho do seu tempo, o qual marcará eternamente a configuração de uma determinada sociedade. Dessa forma, se por um lado, a arte é ruptura, por outro, é instrumento de propagação ideológico.               Por este viés, ao tratar da sua condição de rompimento, a afirmação do escritor torna-se chave. Gullar é a experiência da linguagem mutável como também maleável ao redigir o seu grande texto intitulado Poema Sujo, o qual foge às exigências comuns da poesia, tais como estrofes e métrica. Herdeiro da Semana de Arte Moderna de 1922, demonstra que o artista não deve seguir regras na construção de sua obra, mas pautar sempre pela inovação. Dito isso, é lamentável os inúmeros juízos pejorativos propagados a respeito da produção artística Queermuseu, a qual age tão-só a discutir as problemáticas cotidianas de uma sociedade capitalista em pleno século XXI.                 No Renascimento, o poeta italiano Dante Alighieri redigiu um dos maiores poemas épicos desde os tempos da predominância da cultura greco-romana. A Divina Comédia, deste modo, representou a mudança cognoscente de um homem de origem feudal para um moderno, a mostrar que a arte exerce um papel de transmissão ideológico significante. A concepção cristã é, na obra, traduzida por intermédio de recursos estilísticos das epopeias latinas, a ressaltar ainda as vastas referências a elementos próprios de tais culturas. Posto isso, é alarmante a fomentação de barreiras no que concerne à frutificação artística, a quebrar a liberdade de expressão promulgada pela Carta Magna de 1988.                    A arte, portanto, perde a sua essência quando limitada. Destarte, cabe ao Governo, nas figuras dos Ministérios de Educação e Cultura, investir em projetos e campanhas de incentivo à produção artística por meio de palestras ministradas por especialistas ou artistas, com o apoio de entidades e da comunidade, no intuito de assegurar o seu caráter crítico. Assim, far-se-ão justiça às palavras de Gullar.