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Enviada em: 13/08/2019

Em seu poema “Romanceiro da Inconfidência”, a poeta brasileira Cecília Meireles expõe a dificuldade do ser humano em conceber o que é a liberdade. Fora da poesia, é fato que a complexibilidade desse termo abstrato também remonta a discussão se deve ou não existir limites para a liberdade de expressão nas linguagens artísticas. Desse modo, o respeito e a deliberação devem, em suma, prevalecer sobre o aspecto ilimitado da liberdade.   A princípio, reconhece-se que a Semana de Arte moderna de 1922 foi um marco moderno da extrapolação de barreiras para a liberdade artística. Nesse contexto, essa quebra de paradigmas no século XX, que buscou a cisão da arte erudita para alavancar a arte popular, também representou a ascensão da arte sem restrições. Dessa maneira, a partir da pós-modernidade, a manifestação artística mudou sua significação, não sendo apenas objeto da elite, mas sim um instrumento de luta e de representação de minorias.    Nessa conjuntura, pode-se salientar como mesmo com liberdade irrestrita, a arte em seu papel fundamental zela por respeito e alteridade. Acerca disso, o filósofo alemão Jürgen Habermas disserta que a possibilidade de ser livre esbarra também em deliberar, ou seja, a conversa é o suprassumo de todas as restrições. Dessa forma, quando o artista atua de maneira segregacionista - extirpando o ser humano de sua dignidade e respeito - deve-se conversar, buscar entender os malefícios que aquela manifestação artística representa a um individuo ou grupo, e, se necessário, alterá-la de maneira que a alteridade impere sobre a irrestrita liberdade.     Destarte, cabe à população em geral perceber que a liberdade artística esbarra no respeito ao próximo, já que a arte é uma ferramenta de inclusão, não de segregação. Para tanto, faz-se necessário que o Ministério da Educação e Cultura (MEC) crie, dentro das disciplinas de Sociologia e Educação Artística, aulas especiais sobre o papel fundamental da arte como instrumento inclusivo. Essa aulas poderiam ser feitas por meio de rodas de bate-papo com artistas e representantes de minorias que explicassem como a expressão artística é importante e como o respeito ao outro é fundamental. Dessa maneira, mesmo que, assim como Cecília Meireles, não se saiba o real significado de liberdade, a arte possa ser, desde a escolarização, instrumento de respeito e representação do coletivo.