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Enviada em: 21/03/2018

A sociedade continua repudiando mictórios            A arte é pensamento em movimento, conduzindo as abstratas ideias da consciência até a materialização da obra. A arte possibilita que a sociedade vivencie uma ampliação de sua capacidade dialógica, pois dinamiza uma troca de opiniões que surgem da diversidade de percepções sensoriais. No entanto, reveste-se o fluir artístico com uma perversão instrumentalizada, colocando o preconceito no centro da significação empática das obras, restringindo seu real sentido.              Quando o escultor francês Marcel Duchamp, em 1917, expôs como obra de arte um mictório de porcelana, denominando-o de "Fonte", a sociedade puritana norte-americana repudiou. A academia de artes redigiu um documento ordenando a retirada imediata da obra de Duchamp. O artista explicou que a escolha do mictório representava uma crítica aos cartesianos padrões artísticos do comitê da Academia Nacional de Design. A obra progressista e liberal do artista foi destruída por um dos membros do comitê. Nos dias atuais, essa estagnação cartesiana ainda persiste, gerando o cancelamento de exposições.           Se um indivíduo chega a conclusão que um tipo de exposição artística não é adequada para todos os membros de sua família, a atitude óbvia e sensata é que apenas os que têm idade suficiente para vivenciar as obras assim o façam. Contudo, a falta de diálogo prevalece sobre o bom senso e o trabalho de muitos artistas fica restrito à ideia de quem pode ou não estar frequentando os espaços artísticos, dirimindo a experiência empática que o significado da obra poderia proporcionar.                Portanto, para potencializar o significado real das obras de arte e evitar que fiquem restritas apenas à ideias preconcebidas, se faz necessário: experienciar o respeito às diferenças, através de seminários interativos em espaços públicos, possibilitando que a população construa soluções para conflitos através do diálogo. Com isso, ao visitar uma exposição, os indivíduos não mais perceberão apenas seus preconceitos.