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Enviada em: 11/03/2018

O pensamento social, enquanto saber, deve ser mutável e evolutivo. Cabe a ele analisar as formas de organização da sociedade, bem como o desenrolar dos problemas que a ela são pertinentes. Dessa forma, é fundamental compreender como, em muitos momentos, a prerrogativa da livre expressão se traveste de discurso de ódio e serve como ferramenta de ataque a minorias e manutenção de um status quo social preconceituoso que reforça uma série estigmas os quais afligem grupos historicamente excluídos.       Primeiramente, devemos lembrar que o período militar foi fundamental no processo de cerceamento de liberdades individuais. Marcado pelo autoritarismo e repressão, inclusive à livre expressão, os 20 anos de ditadura criaram a ideia da subversividade do pensamento. Com a reabertura política, vimos crescer na população o uso, agora constitucional, de seu direto à fala. Nesse novo século, especialmente graças  ao advento das redes sociais e da comunicação de massa, o limite entre o exercício de um direito e a universalização de discursos que incitam, direta ou indiretamente, o ódio a certos grupos sociais se perdeu. Sob a falácia do "é livre a expressão, porém vedado o anonimato", a violência, especialmente a verbal, se propagou e se naturalizou, promovendo a sua continuidade.         Soma-se a isso o fato de muitos discursos, dentre eles o humorístico, por exemplo, se aproveitarem de grupos socialmente fragilizados ao utilizarem-se deles em anedotas que dão continuidade a um pensamento retrógrado, cujo objetivo é cada vez mais marginalizá-los e ridicularizá-los. Humoristas como Danilo Gentili, Rafinha Bastos e outros, que recentemente se encontraram envolvidos em escândalos em função de piadas, segundo eles "mal interpretadas", são exemplos de como indivíduos formadores de opinião em rede nacional se utilizam da sua credibilidade para atacar de forma gratuita minorias sociais, sob a escusa de estarem apenas "fazendo graça". Dessa forma, ao invés de assumirem a função de denunciantes da opressão, tornam-se eles também seus agentes, e com outros aparatos compactuam na persistência dessa forma grotesca de humor.       O entrave às liberdade individuais jamais deve voltar a acontecer como no período de 64. No entanto, cabe ao Estado, instituição máxima de poder social, impedir que se promovam discursos de ódio endurecendo as penas para aqueles que o praticarem, aumentando o tempo  de reclusão daqueles que forem pegos em tal delito. Dessa forma, espera-se que, em vista de punições mais severas, formadores de opinião e pessoas comuns abandonem tais práticas e mantenham formem uma sociedade livre tais discursos. Só assim será possível combater efetivamente o quadro de desrespeito travestido de humor que encontramos no Brasil.