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Enviada em: 12/03/2018

O pensamento social, enquanto saber, deve ser mutável e evolutivo. Cabe a ele analisar as formas de organização da sociedade, bem como o desenrolar dos problemas que a ela são pertinentes. Dessa forma, é fundamental compreender o momento em que uma simples piada ultrapassa o limite do humor e torna-se uma forma de agressão. Isso ocorre quando, a partir da prerrogativa da livre expressão, a violência se traveste em comicidade e serve de ataque a minorias e manutenção de um status quo social preconceituoso, que reforça uma série de estigmas os quais afligem grupos historicamente excluídos.   Primeiramente, devemos lembrar que o período militar no Brasil foi fundamental no processo de cerceamento das liberdades individuais. Com a reabertura política, vimos crescer na população o uso, agora constitucional, do seu direito à fala. No entanto, nesse novo século, especialmente amplificado pelas redes sociais e sob a desculpa da liberdade de expressão, cidadãos comuns ou pessoas públicas desrespeitam direitos fundamentais, transformam as mazelas de minorias sociais, como mulheres e negros, em chacota e zombaria, difamando-as e desqualificando, assim, todo o processo de luta apresentado por esses grupos. A consequência disso é a errônea naturalização desses discursos, sua propagação no inconsciente coletivo de gerações futuras e sua sistemática repetição.   Soma-se a isso o fato de muitos discursos, dentre eles o humorístico, por exemplo, se aproveitarem de grupos socialmente fragilizados ao utilizarem-se deles em anedotas que dão continuidade a um pensamento retrógrado, cujo objetivo é cada vez mais marginalizá-los e ridicularizá-los. Humoristas como Danilo Genitli e Rafinha Bastos, que constantemente se encontram envolvidos em escândalos em função de suas piadas, segundo eles “mal interpretadas, são exemplos de como indivíduos formadores de opinião em rede nacional se utilizam de sua credibilidade para atacar de forma gratuita minoriais sociais, sob a escusa de estarem apenas “fazendo graça”. Dessa forma, ao invés de assumirem a função de denunciantes da opressão, tornam-se eles também seus agentes e com outros aparatos compactuam na persistência dessa forma grotesca de humor.     O entrave às liberdades individuais jamais deve voltar a acontecer como no período de 64. No entanto, cabe ao Estado, instituição máxima de poder social, impedir que se promovam discursos de ódio, endurecendo as penas para aqueles que o praticarem, bem como aumentar o tempo de reclusão daqueles que forem pegos em tal delito. Dessa forma, espera-se que, em vista de punições mais severas, formadores de opinião e pessoas comuns abandonem tais práticas e formem uma sociedade livre de tais discursos.