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Enviada em: 06/07/2018

"Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo, não veem". O excerto romance modernista "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago, crítica metaforicamente a alienação e o comportamento de uma sociedade que, paulatinamente, torna-se invisual. Metáforas a parte, tal obra atemporal não foge da cegueira contemporânea, na qual o tecido social brasileiro não enxerga o problema do limite entre a estética e a saúde. Nessa ótica, devem ser analisadas as principais causas desse impasse.      A priori, vale ressaltar o crescimento exponencial de propagandas de belezas e tratamento estéticos. Nesse contexto, os filósofos Adorno e Horkheimer, debateram acerca da falsa necessidade de consumo implantada no corpo social pelo sistema capitalista ligado à pseudo-felicidade (a falsa felicidade). Ou seja, hodiernamente a isso, a Industria Estética disseminou que só seria feliz quem tivesse o "corpo perfeito". Por isso a população perdeu a autonomia do pensamento, fica obcecada pela busca da beldade, fazendo até mesmo procedimento estético de risco à saúde, e as clínicas lucram por meio dessa manipulação midiática. Dessa forma, não é à toa que o Brasil seja o segundo país que mais fazem cirurgias plásticas no mundo, segundo o site G1.     Ademais, observa-se ainda a herança histórico-cultural como causador do problema. Isso decore porque, na Grécia Antiga, os gregos valorizam apenas certos padrões de beleza, os homens musculosos e as mulheres ruivas tinham uma vida mais privilegiada por serem considerados sinônimo de beleza desejável. Analogamente a isso, a sociedade, então, por tender a incorporar as estruturas sociais que são impostas à sua realidade, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bourdieu, naturalizou e reproduziu o pensamento da obsessão de procedimentos estéticos ao longo do tempo como algo cotidiano passível de soluções. Todavia, tudo o que é socialmente construído pode ser culturalmente combatido.      Limite entre a estética e a saúde, portanto, representa uma problemática a ser combatida. Para tanto, cabe a mídia, em parceria com o Ministério da Saúde, criar campanhas, por meio de uma fábula transmitida na televisão, para conscientizar as pessoas sobre os riscos das cirurgias plásticas e a aceitação dos seus corpos, que se chamará "Você é perfeito desse jeito". Nela, os psicólogos e os cirurgiões plásticos demonstrariam exemplos e os danos à saúde que esses procedimentos provocaria para o público. Além disso, é fundamental o Ministério da Justiça levantar essa bandeira, por meio de fiscalizações de propagandas de clínicas estéticas, multando as empresas que divulgarem campanhas abusivas. Dessa maneira, a sociedade volte a enxergar novamente.