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Enviada em: 07/11/2018

"Sobre seu corpo e mente, o indivíduo é soberano". O aforismo do filósofo utilitarista Stuart Mill ressalta uma característica ausente nos usuários da internet, qual seja, a falta de controle sobre a sua capacidade decisória. Infelizmente, essa realidade é produzida pela utilização de algoritmos que filtram o universo virtual dos indivíduos, o que gera sérios problemas à cidadania e à liberdade de escolha. Seja pela falta de transparência comercial e de uso das redes, seja pela escassa educação virtual dos usuários, faz-se premente a discussão dos impactos comportamentais do controle de dados na internet.  Convém ressaltar, a princípio, que o aprisionamento decisório dos usuários é condicionado tanto pela crescente mercantilização cibernética, quanto pela falta de transparência das redes sociais. Segundo o sociólogo Jean Baudrillard, "a realidade não é mais o que acontece, mas o que pode ser dissimulado e reproduzido". Sob esse viés, vê-se que a utilização velada de informações e dados individuais pelas empresas e sites da internet, as quais constroem teias de preferências personalizadas, principalmente por meio de algoritmos, propicia a manipulação dos usuários à conveniência dos produtos e ideias de interesse, como ocorreu com o caso "Cambridge Analytica", empresa associada ao Facebook, que induziu a escolha dos eleitores na corrida presidencial estadunidense, admitindo a falta de permissão dos usuários no recolhimento dos dados.   Ademais, é indubitável que o incipiente ensino do uso das redes virtuais, como reconhecimento de páginas duvidosas e notícias persuasivas, potencializa a falta de controle no acesso à internet. Para o filósofo catalão Manuel Castells, em seu livro "A Sociedade em Rede", a nova era da comunicação é marcada pela criação de "Bolhas Virtuais" que emergem da deliberação, externa e individual, dos gostos e escolhas culturais. À luz desse pensamento, é nítido que a passividade dos usuários decorre da pouca informação dos mecanismos de controle cibernéticos, como critérios de relevância, notificações de acesso e indução comercial, o que prejudica o processo de escolha puramente individual, fortalecendo a deliberação influenciada.   Urge, portanto, que as mídias sociais, como Facebook e Instagram, por serem de grande relevância, criem propagandas e alterem a política de privacidade e uso, por meio de legendas e alertas coloridos em notícias e imagens, explicitando o caráter comercial, com o fito de dar mais transparência e controle aos usuários. Além disso, o Ministério da Educação, por meio do PNLD (Plano Nacional do Livro Didático), deve formular livros e materiais informativos, como cartilhas, tirinhas e brincadeiras lúdicas, como também incrementar aulas de informática como base curricular, visando orientar e auxilar os mais jovens no processo de uso das redes sociais. Assim, a soberania de Mill será retomada.