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Enviada em: 05/11/2018

Em síntese, o livro “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel, traz a mensagem de que os fins justificam os meios. Infelizmente, a máxima do filósofo vem se tornando comum na contemporaneidade, à medida em que se observa o problema da manipulação do comportamento de usuários pelo controle de dados na internet. Indubitavelmente, a questão está intrinsecamente ligada à sociedade atual, devido não só à falta de legislação específica, mas também ao modo de vida das pessoas. Diante tal perspectiva, é necessário que subterfúgios sejam encontrados a fim de resolver essa inercial problemática.     Em primeiro lugar, convém ressaltar a questão constitucional como um dos causadores do tema abordado. Consoante ao filósofo iluminista John Locke, o ser humano é como uma tela em branco que será pintada com experiências e influências. Nesse sentido, vale lembrar o ocorrido nas eleições americanas de 2016, onde uma empresa foi contratada para “furtar” dados de usuários do facebook e, com isso, fazer uso dessas informações para influenciar o voto a favor do presidenciável Donald Trump. Concomitantemente a isso, a falta de legislação específica acaba por incentivar esse tipo de conduta, pois, dessa forma, empresas podem usar dados do usuário com intuito de modular seus gostos e tomadas de decisão.    Faz-se mister, ainda, salientar o modo de vida atual como impulsionador do problema. Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman no livro “Modernidade Líquida”, a falta de solidez nas relações sociais, econômicas e familiares é uma característica marcante do século XXI. De maneira análoga, a liquidez citada por Bauman se assemelha ao atual cenário dos usuários na internet, pois, devido à superficialidade com que se navega na rede- não aprofundamento dos assuntos pesquisados, não pluralidade de ideias ou de gostos- tornam-se alvos fáceis para quaisquer tipos de manipulações, vindo a se tornar marionetes dos interesses alheios.    Destarte, medidas devem ser tomadas para assegurar a integridade ideológica das pessoas. Portanto, urge que a sociedade deve se impor frente às empresas de tecnologia, pressionando o Poder Legislativo a aprovar uma lei que, além de limitar o poder das empresas por meio da criptografia dos dados pessoais, também exija uma imparcialidade do que é oferecido, deixando a cargo do cidadão qual assunto filtrar. Por conseguinte, infere-se que as pessoas terão mais autonomia em seus gostos e formas de pensar, evitando, assim, que a ética de Maquiavel seja usada em detrimento da liberdade individual.