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Enviada em: 06/11/2018

Para discorrer sobre a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet é preciso, de antemão, admitir que George Orwell teria, hoje, matéria-prima para a construção de “2018”, ou de outro capítulo de “1984”, a síntese de fina criticidade a respeito da distopia social de que ainda hoje somos participantes. Sem dúvida, essa lamentável manipulação é agora vivenciada na realidade, deve ser compreendida por dois aspectos diferentes e correlatos entre si: o fácil e ilimitado acesso às redes sociais por grande parte da população, e a intenção dos gigantes da internet em pensar por quem não quer ou não sabe pensar. É tempo de Poder Público e sociedade debruçarem-se sobre essa questão, sob pena de haver retrocessos político-culturais irreparáveis.       Com efeito, a cada dia, o homem tem se tornado mais dependente da tecnologia. Soma-se a isso o fato de a facilidade e a rapidez com que se acessam as redes sociais abrirem caminho para a 4.ª Revolução Industrial, cujo aparato tecnológico conta com dispositivos eficientes para simular e influenciar o raciocínio humano – o que equivale a dizer que a Inteligência Artificial interfere no pensamento, nas decisões e, inevitavelmente, no consumo de bens e serviços do usuário da internet. Prova disso é que, mal ele consulta o preço de um par de tênis, logo variados modelos, tamanhos, cores e preços avolumam-se na telinha do computador ou do smartphone. Eis, assim, o maior departamento de propaganda, marketing, venda e pós-venda do mercado virtual.       Outrossim, por meio da análise de postagens na rede, a Inteligência Artificial também é capaz de traçar o perfil intelectual dos usuários e de cruzar informações que afetam o entendimento daqueles que, talvez por preguiça de ler algo mais seleto, ficam totalmente à mercê de apelos sorrateiros pré-fabricados para manipularem X, a fim de que votem em Y e manifestem-se em favor de Z. Afinal, os recentes processos eleitorais, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, comprovam que as redes sociais foram determinantes para o resultado das eleições presidenciais.         É preciso, portanto, resistir à manipulação comportamental do usuário pelo controle de dados da internet. Ao Estado, na figura do Ministério da Educação, cabe indicar, como literatura obrigatória, não apenas os tipos narrativos, mas também os tipos instrucionais, por meio do estudo aprofundado de estratégias e de gêneros publicitários, a fim de que os jovens conheçam os riscos a que estão submetidos na rede, despertando-lhes, assim, o senso crítico e a atenção para os movimentos de manipulação presentes na internet. Desse modo, a sociedade ficará menos suscetível às manobras ideológicas e mercadológicas do Grande Irmão, sempre disponível nas telinhas, em tempo integral, para toda a família.