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Enviada em: 29/07/2018

No livro "Capitães da Areia", Jorge Amado retrata a vida de um grupo de menores abandonados que cresceram nas ruas de Salvador, vulneráreis às perversões humanas. Hodiernamente, no que se refere ao Brasil, a ineficiência de políticas públicas tanto em relação à reinserção social quanto à garantia dos direitos dos moradores de rua, em consonância com o descaso populacional, contribui para a persistência dessa adversidade.        Dessarte, consoante Aristóteles na obra "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos. Analogamente, o artigo 5° da Constituição de 1988 confere que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Contudo, percebe-se um distanciamento desse ideal, posto que os moradores em situação de rua não possuem seus direitos garantidos. Em suma, a omissão do Estado materializa-se na cobertura ínfima ou inexistente de políticas sociais que procurem viabilizar a reinserção do indivíduo na sociedade.       Paralelo a isso, o corpo social costuma rotular os moradores de rua, gerando um preconceito velado. Conforme Sérgio Buarque de Holanda, a formação do pensamento brasileiro é denotado por cordialidade, ou seja, tendemos a pensar e agir de modo que o emocional se sobreponha ao racional. Assim, atitudes como estereotipar um morador de rua como "mendigo", "vagabundo e "criminoso", além de considerá-lo incapaz de socializar, estudar e trabalhar, confirmam o pensamento do historiador e corrobora para a continuidade da hipervulnerabilidade, a qual está sujeita essa parcela da população.       É incontrovertível, portanto, que os empecilhos impostos à introdução dos morados supracitados são frutos do descaso das autoridades, intensificados pelo hábito coletivo. Urge, por conseguinte, que o Governo Federal, em união ao Ministério do Desenvolvimento Social, invista na construção de habitações permanentes e conceda assistência social aos referentes, com intuito  de ajudá-los a retomarem suas vidas, lidando com temas como o vício em drogas e o desemprego. Ademais, o Ministério da Educação deve instituir, nas escolas e comunidades, palestras com o objetivo de desconstrução, por meio de uma educação crítica, dos estereótipos que prejudicam a harmonia social. Dessa maneira, a realidade distanciar-se-á da literatura amadiana.