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Enviada em: 27/08/2018

Na obra “Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social” o autor Fernando Braga da Costa relata a experiência de ser gari, amparada em histórias dessa profissão. Nesse sentido, a obra evidencia o alcance da invisibilidade social dos garis, a qual acomete diversos grupos da sociedade hodierna, como os moradores de rua, vistos como não portadores de cidadania, simplesmente pela sua posição. Dessa forma, é pertinente ponderar como a ineficiência do poder público aliada à falta de altruísmo na sociedade configuram intempéries para a problemática.          Em primeiro plano, a falta de integração política e social representa uma das faces da questão dos moradores de rua no país. Isso é decorrente de políticas públicas ineficientes que somente levam em conta oferecer condições mínimas ao indivíduo para sobrevivência, sem criarem um panorama que auxilie na mudança daquela situação, principalmente, na obtenção de um emprego. Nesse âmbito, medidas paliativas como a oferta de refeições e vagas para dormir em abrigos públicos não conseguem resolver o atual quadro e evoluírem para medidas mais efetivas, a considerar a particularidade das situações, o que contrapõe o contratualista Rousseau, que atribui ao Estado o papel de gestor do bem- estar social. Em razão disso, há um agravamento da situação dos moradores de rua, ao passo que o arrocho econômico pelo qual o país passa impõe restrições de mais investimentos na área.        Além disso, a carência de altruísmo na sociedade brasileira contribui para a a atual situação dos moradores de rua no país. Segundo o sociólogo Zygmund Bauman a responsabilidade em relação ao outro, como um comportamento moral, surge da condição de proximidade. Todavia, a maneira como o corpo social trata os moradores de rua inviabiliza a construção de um sentimento altruísta, tendo em vista a insensibilidade pela qual essa parcela da população é marcada, num contexto de serem culpabilizados pela sua situação. Logo, essa conduta impossibilita que a sociedade exija uma postura mais concisa dos governantes, na mudança desse quadro social, a considerar o descaso.     Torna-se evidente, portanto, a necessidade de ações capazes de alterar a perspectiva dos moradores de rua no Brasil. Assim, as Secretarias de Desenvolvimento Social devem ampliar as políticas públicas atuais, por meio da exigência dos setores públicos e privados na contratação de indivíduos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, que são recebidos em abrigos, além de realizar estudos regionais para desenvolver projetos específicos às particularidades das situações, a fim de contribuir para uma política mais integradora. Por fim, cabe ao Movimento Nacional da População de Rua, por intermédio das redes sociais, a disseminação de campanhas que incitem à sociedade a um olhar mais fraterno para com essa parcela da população, com o fito de trazer mais enfoque à questão.