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Enviada em: 22/08/2018

Na obra do escritor português José Saramago, “Ensaio sobre a cegueira”, a cegueira dos personagens é uma metáfora para a tendência do ser humano de tornar o próximo um invisível. Semelhantemente, observa-se, na sociedade brasileira contemporânea, que os moradores de rua são negligenciados pelo Estado e pela sociedade, em decorrência da falta de empatia e de assistência social, mostrando-se ocultos  aos olhos dessas instituições.       Primeiramente, deve-se considerar a falta de empatia, presente no corpo coletivo brasileiro, como um sustentáculo do desmazelo. Sob tal prisma, indivíduos negligenciados pelo Estado, a exemplo dos mendigos, não possuem ajuda social, nem relevância política; por conseguinte, o panorama atual permanece inalterado, devido à inexistência de voz reivindicatória. Nesse sentido, apesar de os moradores de rua estarem presentes no cotidiano urbano nacional, percebe-se, na música “Panis et Circenses”, da banda Os Mutantes, a indiferença dos cidadãos mediante os problemas estruturais, explicitada na frase “Soltei os tigres e os leões nos quintais, mas as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer”. Dessa maneira, a sociedade permanece passiva a essa conjuntura, sendo alheia a histórica marginalização, marcada pelo diminuto número de políticas públicas voltadas para o combate à situação de extrema pobreza.       Ademais, o desamparo sofrido pelos moradores de rua fomenta o adoecimento mental desses indivíduos e a violência urbana. Nesse contexto, alguns fatores, tais como a fome e a insalubridade, vivenciadas por desabrigados e narradas no poema “O bicho”, do célebre autor brasileiro Manuel Bandeira, configuram-se como expoentes de transtornos psicológicos. Por consequência desse quadro e da ausência de assistência social, tais indivíduos recorrem ao uso de drogas, na busca de atenuar os sintomas das patologias e de fugir da dura realidade. Dessa forma, em virtude do abuso de substâncias alucinógenas e do agravamento das doenças, essas pessoas podem praticar atos ilegais, como assaltos e agressões; logo, é possível inferir que esse processo não afeta apenas ao morador de rua, mas às cidades, que se tornam mais perigosas, e aos cidadãos, transformando-se em uma problemática social abrangente.       Destarte, questões sociais, como a invisibilidade, a ausência de amparo e de respaldo social assolam os moradores de rua. Sendo assim, visando a atenuação da problemática, cabe às Instituições, como a ONG Casa do Zezinho e a ONG Arte e Vida, acolher esses seres humanos, por meio de abrigos e do fornecimento de bens básicos, a fim de, a curto prazo, diminuir o estado de exclusão dessas pessoas. Além disso, estas são capazes de instruir esses indivíduos, através de oficinas e cursos, possibilitando, então, a longo prazo, a plena incorporação deles na corpo coletivo e no mercado de trabalho, contribuindo para o aumento da autoestima e para a saúde psicológica.