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Enviada em: 28/10/2017

Sonho ufanista        Na obra pré-modernista “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, do escritor Lima Barreto, o protagonista acredita fielmente que, se superados alguns obstáculos, o Brasil projetar-se-ia ao patamar de nação desenvolvida. Hodiernamente, é provável que o major Quaresma desejasse pôr fim à vulnerabilidade social que os moradores de rua estão submetidos, situação frequente no país e um dos aspectos mais lamentáveis que podem existir em uma sociedade. Esse cenário perdura, principalmente, pela inobservância do estatal somada à falta de empatia da população.         Em primeiro lugar, é notório que o a negligência do governo está na origem do problema. De acordo com o economista inglês John Maynard Keynes, é dever do Estado suprir as necessidades basicas de seus cidadãos e assegurar-lhes o bem-estar. Contudo, o poder público vem há décadas ignorando sua responsabilidade de garantir amparo financeiro à população carente e, por esse motivo, milhares de indivíduos tornam-se andarilhos. Logo, uma mudança nesse panorama requer que o Estado assuma um papel mais ativo no setor.          Além disso, a sociedade tem sua parcela de culpa no cenário vigente. Segundo o escritor austriaco Franz Kafka, a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana. No entanto, muitos brasileiros parecem não concordar com essa frase, visto que o comportamento de grande parte da sociedade brasileira para com os moradores de rua é regido por sentimentos egoístas e preconceituosos, em vez de, como Kafka gostaria, sentimentos empáticos e solidarios. A consequência dessa situação são os frequentes casos de agressão e desrespeito a essa comunidade.       Denota-se, portanto, que a ressocialização dos moradores de rua constitui um sério desafio para o país. Ao Estado, na figura de Poder Executivo, compete a criação de um programa social para amparar indivíduos socialmente vulneraveis, por meio da concessão de vouchers na área de saúde, alimentação e moradia, objetivando evitar o êxodo dessa população para as ruas. Paralelamente, a escola, a mídia e as ONGs, importantes aglutinadoras sociais, deverão agir em conjunto para promover a solidariedade para com os andarilhos, por meio da divulgação de sua importância em palestras, sermões e reportagens com o intuito de reduzir a discriminação a esse segmento. Assim, com Estado e sociedade civil unindo forças em prol de um país mais justo e humano, o sonho ufanista do major Quaresma estará mais próximo de tornar-se realidade.