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Enviada em: 31/10/2017

Historicamente, a sociedade brasileira apresenta a lastimável tendência de higienização de seus principais centros a partir da marginalização de grupos que supostamente degradam o cenário urbano, sendo seu principal alvo os moradores de rua. Negligenciados pelo Estado e invisíveis a uma população essencialmente individualista, essa parcela populacional mostra-se crescente, refletindo, dessa forma, a desigualdade que assola a realidade do país. Assim, é de suma importância a implementação de políticas sociais que visem a reversibilidade dessa condição social devastadora.       O crescimento aterrador do número de moradores em situação de rua está intrinsecamente ligado a um rompimento com as diretrizes básicas estabelecidas na Constituição Federal. O Estado brasileiro mostra-se praticamente ausente no que diz respeito a aplicação de políticas públicas para a reversibilidade desse quadro, não garantindo a essa parcela populacional condições mínimas de moradia, saúde e alimentação, colocando-a como mero objeto destinado unicamente ao sofrimento, à fome, à violência e ao abandono. Mediante essa negação da identidade humana, os moradores de rua possuem sua integridade violada, tornando-se constantes alvos da violência social e policial, como ocorrido no Massacre da Sé, em 2004, sendo veementemente condenados ao anonimato.      Essa invisibilidade que castiga o cotidiano de muitos moradores de rua está conectada à mentalidade essencialmente individualista da sociedade contemporânea. Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, em um mundo onde as relações sociais se liquefazem rapidamente, os sentimentos de empatia e de coletivismo são sacrificados em nome da preservação dos interesses individuais. Dessa forma, grande parte da população brasileira mostra-se alienada acerca da situações de tais pessoas, passando a reproduzir estereótipos indevidos que colocam todas essas como meros bandidos, contribuindo para o apagamento da identidade de tais moradores e, consequentemente, para a dificuldade de superação de dessa problemática, visto que homogeiniza uma situação altamente complexa e diversificada.       Portanto, mediante ao descaso e a invisibilidade a que são condenados os moradores de rua e ao consequente crescimento dessa parcela populacional, urge a superação desse quadro. Cabe à Secretaria Especial dos Direitos Humanos a realização de pesquisas que visem a coletas de informações para conhecer a diversidade de motivos que levam o cidadão a tal situação, de modo a aplicar políticas públicas mais eficientes, almejando a reversibilidade de tal condição. Ademais,aliada às  Universidades locais, essa pode promover a criação de grupos multidisciplinares que ofereçam assistência à saúde física e psicológica desses e garantam sua proteção contra a violência,a partir de uma reorientação das instituições policias, possibilitando a inserção gradual desses no meio social.