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Enviada em: 23/02/2018

"Vi ontem um bicho, na imundície do pátio, catando comida entre os detritos". No célebre poema "O Bicho", do escritor brasileiro Manuel Bandeira, é retratado de forma fiel e impactante a situação que se encontram os moradores de rua, os quais, muitas vezes, são confundidos com animais. Nesse contexto, infelizmente, tal literatura mostra-se mais atual do que nunca, tendo em vista o crescente número de indivíduos em situação de rua no Brasil. Nesse viés, deve-se discutir as vertentes que englobam tal problemática.         Em uma primeira abordagem, é indubitável que a "liquidez" da modernidade -termo usado por Zygmunt Bauman- suas constantes modificações sociais, juntamente com a dinâmica do capitalismo, estejam entre as causas do problema. Partindo desse pressuposto, é factível que conflitos familiares, falta de emprego e envolvimentos constantes com álcool e outras drogas, mostram-se como potencializadores de mudanças drásticas na vida do indivíduo. Dessa maneira, ao encontrarem-se em momentos conturbados, seja financeiramente ou emocionalmente, muitos indivíduos, por vezes, acabam sendo instigados a abandonar seus lares e, sem destino algum, acabam nas ruas.         Outrossim, Hanna Arendt, filosofa alemã, afirmava que os Direitos Humanos pressupõem uma concepção de homem abstrato que termina, na prática, excluindo muitos grupos minoritários. Nesse âmbito, é evidente que a insalubridade, a alimentação precária e as péssimas condições de higiene das pessoas em situação de rua, ferem com os direitos e garantias fundamentais inerentes à pessoa humana, previstos na Constituição Brasileira de 1988. Ademais, atos de preconceito e discriminação prevalecem com frequência no cotidiano da sociedade, minimizando ações solidarias e, lamentavelmente, intensificando conflitos com moradores locais, haja vista a tentativa de retirada dos mesmos desses locais públicos, como calçadas e marquises.            Assim, um entendimento humanizado, juntamente com uma politica transversal que contemple as diferentes necessidades é medida que se impõe. Para que se reverta esse cenário problemático, portanto, é necessário que o Estado invista na manutenção e na criação de novos Centros POP - especializados na população de rua- disponibilizando consultas médicas mensais e condições básicas como, por exemplo, alimentos saudáveis e produtos higiênicos. Ademais, fica à cargo das Organizações não governamentais, prestarem assistência aos indivíduos, auxiliando-os na busca por empregos e inserindo-os em projetos culturais, afim de os mesmos conquistarem uma autonomia financeira e participarem, novamente, da vida em sociedade.