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Enviada em: 23/07/2018

O carnaval, sendo conceituado como patrimônio histórico e artístico nacional, vinculando-se aos fatos memoráveis da história do Brasil com excepcionais valores artísticos, porém a cultura que pode ser considerada uma vasta riqueza é mais intangível e subjetiva.   Se a alegação de interesse social ou cultural for suficiente para provisoriamente grandes recursos públicos serem algo que não é essencial, é penalizado justamente os que mais dependem dos recursos públicos e menos podem se proteger da inflação.   O antropólogo fluminense Ro­berto da Matta, no livro Carnavais, Malandros e Heróis, de 1979, levanta a tese de que nas festas carnavalescas brasileira ocorre uma inversão de papéis na sociedade. Nas ruas, o pobre vira nobre. E a elite posa de povo – ou, se não o faz, ao menos para e admira a periferia passando na avenida. Isso não é pouco num país profundamente desigual e hierarquizado como o Brasil, em que grassam o “carteiraço” e o “você sabe com quem está falando”. Os desfiles das escolas de samba são a síntese dessa utopia de quatro dias. O interesse cada vez maior das altas camadas sociais e da elite econômica pelo espetáculo da avenida, ainda que revele por um lado uma mercantilização crescente do carnaval, é também o reconhecimento do valor dessa manifestação popular. Um reconhecimento da organização e da beleza que emergem do povo.   Nos barracões onde se produz os desfiles das escolas de samba, raras vezes se origina daquilo que a maioria despreza: materiais de pouco valor. É a transformação do lixo em luxo, num exemplo da inventividade brasileira. A exibição da beleza carnavalesca nas ruas, o espaço público por excelência, também tem um quê de democrática e não elitista.    O carnaval tem sim excessos. Pode-se apreciá-lo ou não. Definitivamente é uma fuga da realidade. Mas é inegável que, tentando escapar das agruras do cotidiano, o povo brasileiro criou coletivamente uma fantasia do que gostaria que o país fosse.