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Enviada em: 28/07/2018

Machado de Assis viveu um período no qual o casamento infantil era uma corriqueira realidade, assim como a subordinação da mulher ao homem. Contudo, a genialidade atemporal de suas obras retrata personagens femininas poderosas e insubordinadas. Destarte, o realismo na mulher machadiana é transgressor até mesmo na contemporaneidade, haja vista que em muitos países, como o Brasil, crianças e adolescentes sejam obrigados a casar-se com adultos antes mesmo da maioridade. Uma realidade que afeta, mormente, o gênero feminino. É incontrovertível, pois, que tal fato esteja atrelado, primordialmente, à vetusta cultura do patriarcado, o qual limita os direitos da mulher na sociedade.       Consoante ao exposto, Simone de Beauvoir é uma grande referência na luta feminista e uma teórica cuja principal obra, "Segundo Sexo", expõe e analisa, minuciosamente, os processos sociais e históricos que construíram a falsa ideia de que o macho humano é o sexo primordial enquanto a fêmea é o outro, subjugado e condenado a posições inferiores, de subserviência ao sexo masculino. Como consequência de tais processos, portanto, iniciou-se a objetificação da figura feminina desde a mais tenra idade. Um procedimento desumanizador institucionalizado pelas famílias, pelos sistemas econômicos e pelos Estados.       Por conseguinte, o objeto feminino, em todo seu espectro, sem qualquer preocupação acerca do desenvolvimento físico, mental e social da criança, foi tomado como produto docilizado, comercializável e que pode ser passado de um homem, o pai, para o outro, o marido. Tal trágico efeito, contudo, possui a permissão da máquina estatal para ocorrer. De acordo com Michel Foucault, a modernidade trouxe mecanismos de poder docilizantes, que pacificam as pessoas, sobretudo, as mulheres. Para exemplificar, o Brasil possui um congresso essencialmente masculino, o qual representa os interesses femininos de maneira irrisória.       Em virtude de tal problemática, cujas consequências desconfiguram a vida de de tantas crianças, com implicações mais negativas sobre as meninas, a realidade hodierna, ainda mais hostil que o realismo machadiano, urge por mudanças. Em suma, tal efeito será alcançado mediante uma participação feminina mais efetiva na política, de forma a desconstruir a máquina estatal docilizante, a qual permite a institucionalização do machismo, como nas questões maritais. Ou seja, a sociedade precisa eleger mais mulheres para o parlamento, a fim de remover as brechas legais que permitem o casamento infantil, criando uma ouvidoria própria para denúncias de uniões ilegais e, consequentemente, mitigando o sistema patriarcal.