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Enviada em: 09/07/2018

A obra intitulada "A cor púrpura", de Alice Walker, discorre a respeito da história de uma garota chamada Celie, de 14 anos, que se casa precocemente e tem dois filhos. Apesar de toda a subjetividade, a trama serve como um gancho para abordar a respeito do casamento infantil e seus impasses a partir do momento em que é corroborada a dicotomia existente entre legalidade e hábitos culturais. Dessa forma, analisar a temática e seus impactos no âmbito social: eis um desafio à contemporaneidade.    É necessário considerar, antes de tudo, que a proteção de crianças e adolescentes, apesar de crucial, não é prioridade. O Brasil é o quarto país no mundo com maior índice de casamentos de crianças e adolescentes meninas. Nesse sentido, a falta de uma postura rígida e efetiva culmina em índices de desigualdade, principalmente, as de gênero. Pois, o problema crônico está aliado à evasão escolar, vulnerabilidade feminina, aumento nos índices de gravidez e mortalidade, além dos alarmantes dados de vítimas de violência doméstica conjugal. Afinal, a cultura do "American Way of Life", reforça os papéis de gênero tradicionais que são intrínsecos nos casamentos infantis: os homens como provedores da família, e as meninas responsáveis pelas tarefas domésticas.    Convém analisar, também, os principais motivos que levam ao casamento infantil. Gravidez precoce, desejo das famílias de controlar a sexualidade, assegurar a estabilidade financeira através do casamento, são algumas das inúmeras explicações que fortificam o casamento infantil. Essa realidade atinge mais de 500 mil meninas de 10 a 17 anos segundo estudo do Banco Mundial. Logo, o precoce status de adulto coligado a uma constituição familiar dissimula uma postura feminina limitada ao espaço privado do lar. Vale ressaltar que o aumento de casamento ilegais tem demonstrado a tendência retrógrada do legislativo que permite o casamento antes dos 18 anos ou inclui exceções para permitir o consentimento do representante legal.    Fica claro, portanto, que medidas são necessárias para tornar viável uma sociedade que zele pela integridade e direitos infantis. A mídia, como grande formadora de opiniões, junto com ONGs, deve investir em intervenções específicas nas políticas públicas, utilizando a ficção engajada ou jornais, com a divulgação de campanhas contrárias ao casamento infantil aliada à necessidade de manter as crianças na escola, evitar a gravidez precoce e protegê-las de abusos e violências, seja por meio do uso de dados, documentários sobre a temática ou entrevistas com especialistas sobre o assunto, na tentativa de gerar uma cultura de criticidade acerca da problemática. Só assim, com a mobilização de um todo, haverá caminhos diferentes do da jovem Celie.