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Enviada em: 26/08/2018

David, escultura feita por Michelangelo, é considerado um dos monumentos mais sublimes do período renascentista. A retomada aos valores clássicos, nesse sentido, destacou-se por exaltar o homem através da arte, mas tal postura não se manteve presa às telas europeias. Dessa forma, a valorização exacerbada à suposta superioridade intelectual antrópica fomentou os maus-tratos aos seres tidos como irracionais, postura que encontra na parcimônia de estratégias cívico-estatais um fator que torna o tráfico de animais silvestres uma das mais obscuras obras produzidas pela sociedade brasileira.         Em face dessa ideia, evidenciam-se as insuficientes medidas governamentais no que tange à contenção da problemática. Sob esse viés, como possuidor de grande biodiversidade, o Brasil destaca-se por ser um dos principais responsáveis por esse tipo de tráfico, aspecto condicionado pela fiscalização ineficiente dos órgãos públicos — como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Tal posicionamento fragiliza os princípios da Constituição Federal de 1988, que defende em seu 225º artigo a manutenção de um ambiente ecologicamente equilibrado, impossível de ser alcançado com a captura e extinção de animais. O Estado, portanto, caracteriza-se como uma das "instituições zumbis" preconizadas pelo sociólogo Zygmunt Bauman, na medida em que não cumpre efetivamente com o seu papel regulador.           Observa-se, além disso, a postura cívica de afastamento no que concerne ao combate contra o impasse. Desse modo, a discussão limitada sobre os impactos do tráfico de espécies silvestres, associada à compra desses animais, acaba por incitar o crescimento do comércio ilegal. Essa atitude, além de alterar o nicho ecológico das organismos atacados, pode também favorecer a difusão de zoonoses nas comunidades. Por conseguinte, a visão de Thomas Hobbes do homem como o lobo do próprio homem é questionável na medida em que o humano não limita a agressão ao seu semelhante, mas sobrepõe os interesses econômicos aos socioambientais.         Impende, pois, a necessidade de projetos que adotem novas cores ao quadro brasileiro, inviabilizando as tintas sangrentas que o contornam. Para tanto, é dever do IBAMA o investimento em fiscalização das reservas ambientais, utilizando-se de verbas da Receita Federal para a adoção de equipamentos que filmem essas regiões — como drones — e a contratação de profissionais qualificados que analisem as filmagens, com o fito de  desestabilizar a rede de tráfico de animais. Além disso, é essencial que o Ministério da Educação inclua na grade escolar dos alunos a discussão sobre temas ambientais e seus impactos na sociedade, a fim de construir um verdadeiro combate ao comércio ilegal de animais silvestres e, dessa forma, impossibilitar a visão hobbesiana no Brasil.