Materiais:
Enviada em: 24/04/2018

De acordo com a etimologia, o vocábulo "família" denota "escravo do lar". Nesse sentido, é nítida a carga valorativa direcionada à instituição, a qual por muito tempo esteve associada a relações de poder e obediência vindos do líder - o patriarca. Na contemporaneidade - mesmo após a conquista de diversos direitos civis -, persistem, ainda, entraves culturais e representativos que urgem ser superados, a fim de que não mais seja mitigada a compreensão plural desses grupos.   Em primeiro lugar, convém reconhecer a dimensão costumeira ligada à família. Consoante a Pierre de Bourdieu, o núcleo parental é responsável pelo Habitus primário, seara na qual o indivíduo internaliza os primeiros caracteres morais e sociais. Dessa forma, é incoerente visualizar tal vínculo apenas como organismo hierárquico de dominação, uma vez que, com suas muitas nuances, não deve ser valorizado apenas por apresentar um padrão específico, mas por assentar noções cidadãs sob uma perspectiva afetivo-educacional.  Ademais, cabe analisar a hodierna rejeição às mudanças nesse instituto, fundada em conservadorismos arraigados. Legado de uma construção patriarcalista, a sociedade brasileira difunde cotidianamente visões tipificadas de uma família valorosa. Prova disso é a proposição, na Câmara dos Deputados, do Estatuto da Família, documento que estabelece clara distinção entre grupos parentais úteis e inúteis para a comunidade. Assim, institucionaliza-se a falta de representação de núcleos que, vistos como anormais, são direcionados a uma nova espécie de ostracismo.   Torna-se evidente, portanto, a necessidade de expandir as discussões relativas à representatividade familiar, tendo em vista a importância de tal organismo. Nesse ínterim, faz-se imprescindível que instituições de ensino e mídia trabalhem para expandir as concepções sobre família, de modo a proporcionar respeito. Para tanto, deve ser realizada pelas primeiras a abertura para aulas dinâmicas com debates e discussões sociológicas sobre constituição parental. Otrossim, os meios de comunicação podem realizar ficções engajadas que demonstrem a diversidade da configuração familiar, de maneira que estas estejam à mostra, não mais estigmatizadas. Dessarte, será possível construir, pela informação e intercâmbio de experiências, o respeito e reconhecimento das instituições "não ideais" que, ora, poderão se autoafirmar.