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Enviada em: 19/05/2018

¨Os índios principais têm mais de uma mulher, e o que mais mulheres tem, se tem por mais honrado e estimado¨. Esse fragmento é parte do livro Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa, e retrata a vida poligâmica das famílias indígenas antes da chegada dos portugueses, que, ao desembarcarem nessas terras, impuseram aos nativos um conceito europeu de família perdurante até então. Recentemente, após um projeto na Câmara dos Deputados reconhecer como estirpe somente a nuclear, o tema passou a ser debate social. Tais debates revelaram o quão dinâmica é a instituição familiar e a impossibilidade de enquadrar a palavra família em conceitos ínfimos e limitantes.     Exposto isso, averigua-se que um dos grandes problemas da sociedade brasileira em relação a esse assunto consiste no olhar anacrônico que a mesma lança sobre a instituição familiar. Há uma resistência social em entender que a palavra estirpe é moldável conforme à época em que está sendo analisada, e existe também uma busca em resgatar o padrão de família medieval. Padrão esse, formado majoritariamente por núcleos que se uniam baseados em interesses econômicos, como ilustra Senhora de José de Alencar, ou por imposição religiosa. Nessa conjuntura, diferente do século V, no mundo pós moderno as relações de união estão ligadas em maior número a afetos, fato que comprova isso é um levantamento realizado pelo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia em 2010. Segundo a pesquisa, houve uma redução de 7,2% no numero de casamentos religiosos entre os períodos de 2000 a 2010, e a união de 60 mil casais homoafetivos só em 2010.     Nesse contexto, está surgindo gradualmente, devido a inserção da mulher no mercado de trabalho, quebra de tabus como virgindade, os movimentos que pregam o amor livre e a instituição do divórcio em 1977, uma pluralidade familiar no Brasil que não admite conceitos limitantes. Existem núcleos monogâmicos, homoafetivos, matriarcais dentre outros, mas o importante é o direito à liberdade de cada indivíduo. Direito esse, que tem sido constantemente violado, em razão do preconceito social e institucional como o da banca Boi, Bíblia e Bala(BBB) no Congresso Nacional, ao querer padronizar a instituição familiar.     Logo, para que a discriminação relativa à pluralidade estirpe seja atenuada, é imprescindível que o Ministério da Cultura, viabilizado por verbas do Governo Federal , invista em campanhas que mostrem os diferentes tipos de família na sociedade, passem a mensagem do quão importante é o respeito ao individual de cada um e a validade de qualquer maneira de amor. Essas campanhas podem ser veiculadas nas mídias sociais, rádios, televisões, escolas e no Congresso Nacional,  a fim de mostrar que o respeito é a base para convivência em sociedade.