Materiais:
Enviada em: 30/05/2018

Abrindo as cortinas   Segundo o filósofo John Locke, o homem é como uma tabula rasa, nasce inato, adquirindo conhecimentos por meio da vivência e experiência. Logo, em uma sociedade historicamente conservadora e patriarcal, o quadro “papai, mamãe, titia”cantada pelos Titãs continua sendo a forma vista como normal. Contudo, outras formas de representação familiar emergem na sociedade brasileira, e tornam-se vítimas de preconceito. Assim, é fundamental que o Governo, junto à sociedade busque soluções para este inconveniente social. Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas “Memórias Póstumas ”que não teve filhos e não permitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. Talvez hoje, ele percebesse acertada sua decisão. A postura preconceituosa da sociedade que se diz moderna marginaliza grupos familiares que dissipam da estrutura tradicional - pai, mãe e filho. Mesmo que casais homoafetivos tenham adquirido o direito à adoção, uma parte da população não aceita tal quadro, defendendo a ideia de que a criança não terá as duas representações, pai e mãe, no ambiente familiar, o que pode prejudicar sua formação.Prova de tal ideia, foi o projeto lançado pela Câmara de Deputados , que propõe a legitimação apenas da união entre homem e mulher no Estatuto da família. Em segundo plano, é notório que no âmbito jurídico, muitos direitos foram alcançados. A legalização do casamento homoafetivo, divórcio, adoção para pessoas solteiras e muitos outros. Contudo, culturalmente ainda há muito que se caminhar. Frases do tipo “mãe solteira” parecem inofensivas, mas carregam uma carga preconceituosa, figuras que deveriam ser vistas apenas como mães, acabam sendo taxadas de formas diferentes, por decidirem não ter um companheiro, ou porque este se encontra morto ou ausente. Além disso, a discriminação não se resume a comentários maldosos, muitas crianças filhas de uma estrutura familiar não convencional sofrem ataques, muitas vezes físicos, principalmente no ambiente escolar. Tal cenário apenas reflete a imagem de uma sociedade preconceituosa, que supõe que o desrespeito é apenas a expressão de sua opinião.. Fica claro, portanto, que a sociedade brasileira, cultiva valores tradicionais, promovendo o preconceito perante estruturas familiares não convencionais. Assim, é fundamental que o Governo Federal, em parceria com as escolas,promova palestras com psicólogos nos centros de ensino, para os alunos e as comunidades, evidenciando a pluralidade das estruturas familiares existentes no país, e como estas são centro de amor e cuidado, semelhante a forma tradicional, logo devem ser dignas de respeito. Tal mensagem também deve circular pela mídia, já que essa é formadora de opinião. Além disso, as esferas de poder, devem suscitar medidas que punam qualquer ato de preconceito. Assim, ao abrir as cortinas do mudo plural que vivemos, a sociedade terá consciência desta diversidade, promovendo o respeito e deixando um legado de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.