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Enviada em: 23/10/2017

Ao longo do período medieval os casamentos e a formação de famílias estiveram, majoritariamente, ligados a interesses políticos e econômicos. Nos tempos hodiernos, contudo, devido ao avanço de direitos sociais - como divórcios e recasamentos - e a evolução natural de valores morais, as organizações familiares foram multiplicadas, ressignificando o conceito de família no corpo social. Todavia, no Brasil, devido a uma herança cultural marcada por dogmas e pela violência institucional representada pelo poder político de grupos reacionários, essas mudanças são estigmatizadas.     Mormente, o conservadorismo do corpo social brasileiro dificulta a conquista e a legitimação de direitos. Nesse sentido, embora segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40% dos lares brasileiros sejam chefiados por mulheres, o patriarcalismo ao influenciar na esfera social e econômica, estabelece ojerizas limitantes como a de que toda casa precisa da figura de um homem ou que esse receba salários superiores ao da mulher. Sob essa ótica, percebe-se os efeitos do machismo e seu papel na negação da mobilidade social e de diferentes arranjos familiares.  Dessarte, a permanência de valores morais arcaicos e violentos são determinantes à permanência desse impasse.     Outrossim, a conhecida bancada da bíblia no congresso brasileiro, ao desrespeitar a laicidade do estado, potencializa o sectarismo quanto às formações familiares. Mesmo que na visão nietzschiana o ser humano deva procurar a máxima afirmação de si próprio, contra quaisquer obstáculos, repressão ou coerção, quando existe na esfera política um grupo majoritário que defende valores, muitas vezes, antidemocráticos, as liberdades individuais  e coletivas são cerceadas. Exemplo disso é o 'Estatuto da Família' que tramita no senado com o fito de deslegitimar as organizações familiares que não seguem o padrão 'homem e mulher com filhos', projeto esse que, claramente, representa um regresso aos tempos medievais e a inobservância das mudanças sociais. Dessa forma, a resultante de valores dogmáticos e conservadores, institucionaliza a violência por meio do poder político.     De modo exposto, depreende-se a fluidez do conceito de família como um fenômeno sociocultural legítimo. Torna-se imperativo, portanto, que ONGs destinadas à essa causa, junto à sociedade civil engajada e à mídia, organizem campanhas permanentes e passeatas em locais públicos com o fito de combalir preconceitos utilizando cartazes e 'hashtags' que estimulem a visibilidade da causa e que cobrem do Estado uma revisão legal criteriosa de quaisquer impedimentos à legitimação dos mais variados tipos de famílias, coibindo a superposição de valores dogmáticos a valores democráticos. Assim, poder-se-á respeitar a liberdade e propagar a tolerância mútua sobre os múltiplos arranjos familiares no Brasil, pois como proferido por Karl Marx: as inquietudes são a locomotiva da nação.