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Enviada em: 20/08/2017

Propagada em anúncios e programas televisivos, passando por revistas de moda e de culto ao corpo, a disseminação da ideia de que é possível, ou mesmo obrigatório, buscar por um físico perfeito e  eternamente jovem está impregnada na cultura hodierna. No Brasil, país conhecido pela exposição dos corpos e valorização da sensualidade, essa busca é potencializada. Incentivando tal comportamento está a milionária indústria do consumo, aliada a uma ideologia que relaciona o alcance desse padrão corporal à ascensão social, poder e felicidade. Como efeitos deletérios desse quadro, observa-se o aumento de doenças ligadas à distorção da auto- imagem corporal e, ainda, o abuso de procedimentos e intervenções estéticas. Tendo em vista esse cenário, ações de regulamentação, informação e educação que visem separar o saudável do patológico tornam-se indispensáveis.       A indústria da beleza engloba os mais diversos nichos de mercado e serviços, movimentando quantias milionárias de dinheiro. Moda, cosméticos, alimentação, academias, fármacos, tratamentos estéticos: é quase interminável a lista dos setores econômicos que lucram com a busca frenética pelo padrão do corpo perfeito, idealizado e difundido por esses mesmo setores. Com o intuito de ampliar o consumo de seus produtos, não raro a obtenção do corpo ideal é associada a valores como saúde, bem-estar, status social e, sobretudo, felicidade. Destarte, imagens com tal apelo são massivamente disseminadas em campanhas publicitárias, telenovelas, revistas e até em programas infanto-juvenis.        Em dissonância com esse paradigma de beleza e felicidade, estão suas consequências: doenças como anorexia, bulimia e vigorexia são cada vez mais comuns, mutilando corpos e trazendo infelicidade e depressão. Ademais, há ainda o apelo indiscriminado a procedimentos invasivos e de risco. Nesse âmbito, o Brasil encontra-se em segundo lugar no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, em número de cirurgias plásticas realizadas com finalidade estética.        O culto à padronização corporal no Brasil é, portanto, objeto merecedor de atenção e reflexão  pela sociedade, a qual, em parceria com entidades de referência, deve repensar seus valores e hábitos. Para tanto, cabe aos conselhos de autorregulamentação publicitária, como o CONAR, a responsabilidade ética de avaliar e impedir que propagandas de cunho abusivo e enganoso sejam veiculadas. Às entidades médicas, bem como aos órgãos de Saúde Pública, cabe a divulgação, através de campanhas nacionais e nos próprios consultórios médicos, de informações que apontem os limites entre os hábitos saudáveis e os nocivos à saúde. Finalmente, às famílias e escolas, cabe ainda a orientação e discussão sobre temas como felicidade, auto estima, consumo e  manipulação de massa. Só assim, por esforços conjuntos, será possível reverter a crença no mito do corpo perfeito.