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Enviada em: 27/05/2017

“Nos deram espelhos e vimos um mundo doente"       Na obra literária “O Guarani” de José de Alencar, escrita na primeira fase do modernismo, é perceptível a figura do índio como herói nacional. Entretanto, fora da literatura, um século e meio depois o Brasil tem outra visão de seus primeiros habitantes. Os povos indígenas estão despidos de voz e de terra, e continuam, dia após dia, sendo exterminados: ora pela falta de reconhecimento identitário, ora pelas guerras territoriais.        A priori, é preciso encarar a realidade de que, erroneamente em nosso país, mesmo quinhentos anos depois da colonização, ainda persiste a manutenção de uma visão eurocentrista acerca dos indígenas. Prova disso, é o fato de ao longo da vida escolar, os livros didáticos os representarem como selvagens e sua cultura ser considerada, por muitos brasileiros, meramente folclore ao passo que a nossa é classificada como abundante e sofisticada. Torna-se claro, nesse sentido, um sistêmico esquecimento de uma parte importante da identidade histórico-cultural brasileira.        Ademais, apesar de terem o direito à terra garantidos no artigo 231 da Constituição vigente, os índios brasileiros sofrem constantemente com a violência em conflitos territoriais, outrora com os bandeirantes, hoje com os fazendeiros. A título de exemplo é possível citar o atentado ao grupo indígena Gamela no Maranhão, em que 15 índios foram mortos e outros tantos feridos, em maio deste ano. Tais confrontos são ocasionados pela morosidade nas demarcações de terra, visto que a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) encontra severas dificuldades em fazê-las, principalmente pela influência política dos grandes fazendeiros, expressada por meio da bancada parlamentar ruralista, a qual prioriza os desejos capitalistas dos latifundiários.         É evidente, portanto, que a problemática abordada exige medidas eficazes e imediatas para ser resolvida. Logo, faz-se necessário que o Ministério da Educação torne obrigatório nas escolas o ensino da história e cultura indígena, mediante fixação de matéria específica á grade curricular dos níveis fundamental e médio, a fim de sanar o esquecimento identitário já mencionado. Além disso, cabe ao Supremo Tribunal Federal intervir na questão das demarcações de terra, acelerando os trâmites dos processos de demarcação atuais; a FUNAI deve melhorar o suporte às terras já demarcas, por meio de ações protecionistas: construção de muros e cercas, conjuntas com a comunidade indígena e ONG’s especializadas na área, para que não haja mais conflitos com invasores. Dado isso, o Brasil dará o devido reconhecimento e proteção aos seus nativos, e, por conseguinte, voltará ter a valorosa percepção heroica dessa gente, dantes descrita nos contos de José de Alencar.