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Enviada em: 12/06/2017

"A terra em si é de muito bons ares. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente." Pero Vaz de Caminha, em sua carta de Achamento do Brasil, além de transmitir os detalhes da nova terra, aconselhou o rei de Portugal a executar uma tarefa civilizatória nos nativos, através da catequização, demonstrando o sentimento de superioridade que os europeus possuíam em relação aos índios. Desde então, o processo de aculturação dos povos indígenas gerou consequências maléficas que se refletem até hoje, constatando, portanto, a raiz histórica do preconceito. Reverter esse pensamento e proteger o índio brasileiro a fim de preservar a identidade nacional, eis o desafio. Em primeiro lugar, é fundamental entender como se deu a desconstrução da cultura indígena e seus efeitos na sociedade contemporânea. O plano de europeização do índio fui muito além da catequese. Na literatura, a primeira fase do Romantismo, conhecida como indianista, na tentativa de construir uma memória pré-colonizadora, atribuiu ao nativo características europeias, romantizando-o. Peri, indígena da obra "O Guarani" de José de Alencar, abandona sua tribo e seus costumes em nome de Ceci, filha de um europeu, pela qual se apaixona na história, reforçando a ideia de inferioridade, que é transmitida até os dias atuais, colaborando para a desvalorização e marginalização do índio. Esse pensamento se torna ainda mais nocivo porque reflete a falta de representatividade no Congresso Nacional. A  Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), maior opositora aos direitos indígenas no país, é composta por 207 parlamentares da bancada ruralista, enquanto a população de índios alcança quase 700 mil, sem possuir um parlamentar sequer. Esse contraste ficou ainda mais exposto após uma comissão da câmara aprovar, em 2015, a PEC 215, que propõe retirar do Executivo a atribuição de demarcar terras indígenas. Em um retrocesso, a concentração de terras e de poder aumentará ainda mais, dificultando a vida do índio brasileiro, que precisa lutar pelo que sempre foi seu por direito. Desse modo, fico claro que medidas precisam ser tomadas visando resguardar os povos indígenas no Brasil. Para isso,  o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura, em parceria com editoras, devem introduzir o estudo sobre a cultura indígena nas escolas, através da distribuição de livros didáticos que promovam o conhecimento dos costumes, das diversas línguas faladas e das tradições indígenas, a fim de promover a desconstrução dos preconceitos, possibilitando uma convivência harmônica com os primeiros habitantes do país. Aliado a isso, é urgente que o Governo corrija erros do passado através do fortalecimento da FUNAI, órgão indigenista vinculado ao Ministério da Justiça, indicando nomes ligados a causa, para fazer frente à bancada ruralista do Congresso, igualando os índios nessa luta. Assim, ainda que tardiamente, como disse Martin Luther King, "toda hora é hora de fazer o que é certo."