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Enviada em: 22/06/2017

"Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, eles se tornariam, logo cristãos, visto que não aparentam ter nem conhecer crença alguma." O trecho da carta de Pero Vaz de Caminha revela o olhar sobre o povo indígena que se instaurou desde a época da colonização do Brasil. Os portugueses deram introdução ao genocídio dos índios com o pensamento de que esses deveriam ser civilizados e catequizados, no entanto, ainda hoje, o povo brasileiro não se desapegou dessa ideia preconceituosa e etnocêntrica e colabora com a dizimação desse povo, que por causa de seu quase completo desaparecimento, está em foco na atualidade.    Um dos grandes problemas para os índios atualmente é o direito à posse de terras que permitam a continuidade de sua cultura. O avanço das fronteiras agrícolas, principalmente na região Norte, onde se encontram a maioria das tribos, acompanhada do grande interesse dos grandes latifundiários em terras destinadas ao agronegócio, apoiados pela bancada ruralista do Câmara dos Deputados, representa uma grande ameaça a esse direito. Isso porque esses indígenas são obrigados, na maioria das vezes, a se retirarem de suas moradias sob as ameaças de fazendeiros e empresários e porque não recebem um apoio do Estado, que deveria garantir a proteção deles.    Outrossim, na sociedade brasileira, há um grande impasse na valorização dos povos indígenas. O brasileiro tem sua existência baseada na integração de diferentes etnias e na miscigenação, que é um caráter identitário, assim como afirmou Darcy Ribeiro em sua obra "O povo brasileiro", porém é notório que a sociedade herdou o pensamento etnocêntrico e estigmatizado dos portugueses. Isso é perceptível na ideologia dominante de que os índios são bárbaros, de que devem ser civilizados e de que são atrasados e na visão de que a cultura deles se trata apenas de histórias que compõem o folclore brasileiro, o que demonstra a atitude errônea da população.    É evidente, portanto, a necessidade de medidas que mitiguem o impasse. Cabe ao Governo Federal e aos órgãos competentes, como a FUNAI, por exemplo, lutar pelo direito dos índios de possuírem a própria terra e de reproduzirem e praticarem sua cultura, com o objetivo de que latifundiários não se sintam no poder de interferirem em territórios destinados aos índios e de os ameaçarem ou matarem. Cabe ao Ministério da Educação, por sua vez, promover campanhas que instiguem a valorização desse grupo e instalar, definitivamente, a obrigatoriedade do aprendizado a respeito da formação do povo brasileiro nas escolas durante a educação infantil e também durante o Ensino Médio com as aulas de sociologia, assim como a família, por ser o primeiro meio de socialização, deve orientar crianças e jovens a respeito do relativismo cultural e do respeitos as demais etnias.