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Enviada em: 26/07/2017

Descobrindo os descobertos       Em um dos trechos mais conhecidos de sua carta ao rei lusitano, Pero Vaz de Caminha disse: "Nem se preocupam em cobrir ou deixar de cobrir suas vergonhas mais do que se preocupariam em mostrar o rosto". A frase demostra, dentro da perspectiva do europeu, o choque cultural com o habitante natural em relação a seu estado de nudez, na qual seria interpretado como uma inocência de um povo em atraso. A visão do índio brasileiro, atualmente, ainda manifesta-se por preceitos etnocêntricos e, apesar de seu pioneirismo, precisam lutar pelo seu espaço e direitos no Brasil.       Após séculos do primeiro encontro com o europeu, o aborígene brasileiro é descrito de maneira plana e uniforme assim como descreveram os colonizadores. De acordo com o censo do IBGE de 2010, existem 305 etnias indígenas no Brasil, das quais falam 274 idiomas. Entretanto, a imagem romantizada é predominante entre a população, que tiveram sua bagagem cultural a esse assunto construído através das mídias, na qual o índio sempre esteve retratado como um ser selvagem. Com isso, a estereotipação dessa personagem traz como consequência atitudes intolerantes relacionadas à princípios étnicos, sendo colocado como um intruso social.       Ainda neste contexto de inversão de valores, o aspecto político também preocupa. Desde a Constituição de 88, a manifestação cultural indígena  e seus territórios foram assegurados. Porém, PEC's e projetos de leis defendidos por parlamentares de bancada ruralista buscam, motivados por interesses industriais, agropecuários e minerador, explorar áreas demarcadas. Assim, ideologicamente mal interpretado e fisicamente ameaçado, o índio brasileiro vê sua representação inexistente.       É evidente, portanto, a necessidade de buscar uma melhor compreensão do indígena e zelar para que seus direitos não sejam violados. Para isso, as escolas devem trabalhar desde a fase infantil a verdadeira face desses povos, convidando-os para ministrar palestras e elaborar aulas temáticas a fim de levar informações além de fantasias. Ademais, é necessário a fiscalização por parte do setor público e da população através de consultas públicas e pesquisas de opinião, de propostas apresentadas, para evitar promulgações de leis que sobressaiam o individual sobre o social. Dessa forma, será possível cobrir a vergonha desse descaso que perdura séculos.