Materiais:
Enviada em: 16/09/2019

Na produção literária “O cortiço”, o escritor Aluísio Azevedo retrata a rotina de João Romão, personagem que utiliza de ações desonestas para angariar vantagens sobre os outros. Tal conjuntura, embora engendrada sob um viés fictício, não se distancia da realidade que integra o cotidiano brasileiro, posto que práticas estelionatárias são altamente reincidentes não apenas na esfera política, mas também nos outros setores sociais. Esse contexto, construído de forma gradativa, corrobora, indubitavelmente, a passividade populacional frente ao descumprimento de princípios éticos nacionais, imprescindíveis ao progresso da nação e do povo brasileiro.       A princípio, convém ressaltar que, conforme o historiador Caio Prado Júnior, a melhor forma de compreender o Brasil contemporâneo é analisando os acontecimentos passados. Nessa perspectiva, infere-se que o atual quadro de corrupção na esfera política tem raízes históricas, haja vista que durante o Brasil colonial, a Coroa Portuguesa recorria à ações antiéticas, como o clientelismo, para obter respaldo no processo administrativo e garantir regalias. A partir daí, a ocorrência de práticas que visam o benefício individual, em detrimento do coletivo, perpetuou-se no cenário político ao longo de todo o processo de formação do Estado brasileiro,provocando a banalização do descumprimento de valores éticos no país.          Por conseguinte, essa crise ética no âmbito da política refletiu diretamente no corpo social, motivando-o a reproduzir atos desonestos no quotidiano, o que fomenta o surgimento de caracterizações pejorativas ao cidadão do Brasil, como o trivial "jeitinho brasileiro". Esse panorama deturpado denota um grande desafio para a construção de uma sociedade sociedade justa e consolidada, pois, segundo o filósofo Immanuel  Kant, o princípio  da ética é agir de forma que tal ação se torne universal. Sob essa ótica, a recorrência dessas ações - análogas às de João Romão - confronta a ética Kantiana, uma vez que a ampla universalização dessas práticas individualistas e indecorosas tem como principal consequência a instauração de um desequilíbrio social.           Desprende-se, portanto, que a letargia do indivíduo brasileiro frente ao cumprimento da ética nacional configura-se um impasse que deve ser mitigado. Para isso, cumpre ao Ministério da Educação - ramo do Estado responsável pela formação civil- erradicar essa herança histórica, por meio do desenvolvimento de projetos sociais nas escolas, que abordem a temática de forma lúdica em palestras educativas e em livros históricos, além de envolver não só o corpo discente, mas também os responsáveis, a fim de conscientizar toda a comunidade acerca da relevância em seguir princípios éticos. Desse modo, a realidade do Brasil deixará de ser equivalente à apresentada na obra naturalista.