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Enviada em: 25/08/2018

Para o filósofo Thomas Hobbes, os indivíduos, imbuídos de interesses contrastantes, estabeleciam relações conflituosas que inspiravam guerras constantes, sendo, posteriormente, o estado de paz conquistado por meio do contrato social. No entanto, hodiernamente, em meio ao aumento da criminalidade e da violência, tendo em vista a ineficaz atuação Estatal, o debate acerca do uso de armas pela população revela-se uma das contradições mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento. Assim, analisar os fatores que envolvem essa temática é imprescindível.             Em primeiro plano, é indubitável que a falta de desvelo do Estado no que se refere a segurança pública torna-se um campo fértil para a demanda da população em adquirir instrumentos que garantem (teoricamente) sua autodefesa. A esse respeito, o sociólogo Zygmunt Bauman afirma, em "Modernidade Líquida", que algumas instituições -dentre elas o Estado- perderam sua função social, mas conservaram sua forma a qualquer custo. De fato, o corpo social ao encontrar-se desamparado e com o temor da insegurança do cotidiano, não tem seus direitos individuais previstos na Constituição assegurados, encontrando respaldo no porte de armas de fogo para assegurar sua integridade física e maior segurança.         De outra parte, deve-se levar em conta que o uso de tais "ferramentas" pode configurar-se contraproducente. Isso porque, conforme defendeu o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, em "Raízes do Brasil", o indivíduo brasileiro tende a agir motivado por impulsos emocionais -fenômeno conceituado como cordialidade. Nessa perspectiva, a intensificação do potencial de intervenção do indivíduo, notadamente, com o porte de arma, em suas relações interpessoais, poderia fomentar o seu uso em situações fúteis, a exemplo, discussões familiares ou brigas de trânsito, longe da ideia de preservação da integridade e maior segurança pública da população, o que converge para o estado de natureza Hobbesiano de guerra de todos contra todos e perigo constante.            Logo, o uso de armas pela população revela-se incompreensível, na medida em que ameniza a função social do Estado e pode produzir resultado oposto ao esperado. Para que se reverta esse cenário problemático, portanto, fica a cargo do Ministério da Educação, por meio de debates e diálogos no Ensino Médio, mediados por professores e agentes da segurança pública trazer a tona a discussão sobre a temática, a fim de estimular o pensamento crítico dos alunos acerca dos malefícios do uso de armas pela população. É imprescindível, ainda, a atuação do Ministério de Segurança na efetivação de um maior contingente de policiais, com o objetivo de diminuir a sensação de impunidade e insegurança e, assim, impedir que as ruas brasileiras façam-se tão similares ao estado de natureza de Hobbes.