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Enviada em: 05/07/2019

Cegueira residual       ''Penso que estamos cegos. Cegos que veem. Cegos que, vendo, não veem.'' Essa frase, de Ensaio sobre a cegueira - de José Saramago, revela a pior das cegueiras: a falta de moralidade. Tal objeção é refletida, por exemplo, quando o assunto é o lixo. Seja pelo consumo excessivo, seja por falta de estímulos políticos, ser cego frente a essa realidade tem impactado negativamente o Brasil e aponta para a necessidade de discutir o assunto.         A apatia social é uma das causas do problema. A postura consumista dos brasileiros (fruto de uma modernidade líquida, como diz Bauman) somada à falta de uma reflexão acerca dos novos padrões sociais, corroboram com a proliferação do lixo. Basta observar os oceanos e as ruas, como exemplo, para que fiquem evidentes os impactos residuais. Sem debater o tema, a cegueira social tem corroborado com essa realidade, haja vista que omitir uma causa (sem tratar dela) é, de certo modo, ser cúmplice de suas consequências.       Outrossim, o descaso político-governamental também impulsiona o lixo. Embora o Brasil tenha participado de diversas conferências ambientais - e até mesmo sediado a Rio +20, o país não tem demonstrado avanços que atenuem a questão. A frágil gestão nas cidades, as ruas cada vez mais sujas e a ausência de ações rígidas frente ao tema são capazes de enfatizar o descompromisso nacional. Esses fatos, juntos, mostram como medidas são imprescindíveis para reverter a liquidez e a cegueira residual contemporâneas.         Depreende-se, portanto, que a questão do lixo precisa ser debatida e vista como uma questão sócio-ambiental. A fim de atenuar seus impactos, o Ministério do Meio Ambiente, estimulado pelo governo e com parte do imposto arrecadado, deveria promover ações ambientais que visem mudanças. Por meio de palestras semestrais, o ministério poderia disseminar ideias, em rede nacional, que incentivem a melhor gestão dos lixos nas casas e políticas de reciclagem, por exemplo. Somado a isso, nas escolas, com a ajuda do Ministério da educação, os jovens poderiam ter inclusas, na grade curricular, aulas de gestão ambiental e práticas que impulsionassem um consumo consciente. Assim, por meio de ambas as medidas, as famílias e os mais novos poderiam aprender sobre as suas responsabilidades individuais e que podem fazer diferença no país. Assim, tornar-se-à possível, similarmente, fazer com que as pessoas deixem suas cegueiras e posturas líquidas.