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Enviada em: 22/10/2018

De acordo com Pierre Bourdieu, sociólogo francês, em sua obra "Os Herdeiros", a concentração das ferramentas culturais, como os livros, nas classes dominantes compromete a capacidade crítica de uma nação. Nesse sentido, embora o papel da literatura nas sociedades contemporâneas constitua-se como impulsionadora do desenvolvimento cognitivo da população, este não é valorizado no Brasil, seja pelo limitado acesso a sua aparelhagem no país, seja pela falta de estímulos educacionais para sua prática nas escolas brasileiras.        Diante disso, é indubitável que as questões legais e sua aplicatividade esteja entre as causas dessa problemática. Para Aristóteles, em sua obra "Ética a Nicômaco", a política deve ser usada de modo a alcançar o equilíbrio no corpo social. No entanto, observa-se que tal ideal não é devidamente praticado pelos entes federativos brasileiros, haja vista que, a despeito da Lei de Bibliotecas nas Escolas de 2010, a maior parte (61%) das escolas públicas de ensino fundamental não possuem bibliotecas para seus alunos, índice três vezes maior que dos das instituições particulares, segundo o Censo Escolar 2017. Como resultado disso, tem-se o desestímulo à leitura pelos discentes de baixa renda frente a concentração das ferramentas literárias no país, como os livros.        Outrossim, a educação majoritariamente conservadora nas escolas brasileiras potencializa tal quadro. De acordo com Anísio Teixeira, intelectual brasileiro, a escola é responsável também pela construção de atitudes. Seguindo essa linha de pensamento, as instituições de ensino ao priorizarem o estudo técnico, voltado para as regras gramaticais, em detrimento do conteúdo lúdico da literatura, possibilita o desinteresse dos discentes pela leitura e afasta-os desse ilimitado universo - parte (44%) dos brasileiros não leem, segundo o jornal O globo. Isso compromete o desenvolvimento cognitivo e a capacidade crítica da população, tornando-a mais manipulável pelos segmentos dominantes.        Dessa forma, urge que o Estado tome medidas para valorizar e estimular a leitura literária na nação. Destarte, o Ministério da Educação, junto às Secretarias de Ensino, devem fiscalizar e cobrar dos municípios a ampliação e construção das bibliotecas nas escolas por meio de audiências públicas e aplicação de multas àqueles que não o realizarem, a fim de garantir o acesso populacional à aparelhagem literária, como os livros, jornais e revistas, e a efetivação das leis. Por fim, a Sociedade Civil Organizada e ONGs devem, mediante introdução de oficinas, grupos e rodas de leitura nas escolas, introduzir uma educação mais lúdica para os discentes, construindo, assim, este hábito nos jovens, transformando-os nos precursores de um país leitor.