Materiais:
Enviada em: 12/05/2019

Um excerto retirado do livro “Número Zero”, de Umberto Eco, diz que: “Não são as notícias que fazem o jornal, e sim o jornal que faz as notícias”. Na obra o autor retrata um grupo de redatores que não se empenham na transmissão da informação, mas na manipulação das mesmas de acordo com os interesses dos patrocinadores do telejornal. Embora não se apresente tão ostensivo quanto na ficção, a realidade demonstra que o poder da mídia define não somente os campos políticos, sociais e econômicos como também promove o processo de alienação. Neste sentido, é fundamental que se discuta os fatores corroborantes a essa problemática.       Em uma primeira instância, observa-se a importância de analisar o assunto sob um viés histórico. Durante a Era Vargas, Getúlio criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) com o objetivo de divulgar a ideologia do Estado Novo. Além de deter o controle de várias centrais de divulgação, o departamento monitorava e censurava os conteúdos apresentados nas rádios, teatros, imprensa e cinema. Nesse sentido, a mídia perdeu sua função informativa e assumiu um papel de intransigência e opressão. Observa-se, portanto, que os meios de comunicação atuam não somente no processo de alienação, mas também na formação de indivíduos acríticos.        Outrossim, percebe-se que a manipulação resulta da ausência de um caráter fundamentado em escolhas conscientes. O advento da tecnologia facilitou a liberdade de expressão entre os indivíduos. Todavia, a rápida propagação de informações que, por vezes, não são verídicas -, estimula o cidadão a lutar por causas das quais não possui conhecimento. Um estudo realizado pela Universidade de Oxford em 2017 revela que o Facebook é a principal fonte de informações dos brasileiros. O resultado da pesquisa suscita apreensão, haja vista a falta de fiscalização da rede sobre as notícias publicadas e compartilhadas pelos usuários.        Desta forma, torna-se imprescindível a adoção de políticas mediadoras a fim de contornar essa realidade. Cabe ao Ministério da Justiça a criação de leis que possam reger a propagação de notícias; quaisquer matérias tendenciosas devem ser sujeitas à rigorosas sanções punitivas. Além disso, é necessária a criação de uma ouvidoria online para que a população possa denunciar a ausência de transparência nos veículos midiáticos. Somado à isto, é dever do Ministério da Educação a criação um currículo que evidencie os efeitos da manipulação e contribua para a formação do senso crítico dos alunos. Assim, com o comprometimento da lei e cidadãos perspicazes, o Brasil se distanciará cada vez mais da realidade retratada por Umberto Eco.