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Enviada em: 29/04/2018

Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. Hodiernamente, esse mito assemelha-se à luta dos órgãos de saúde, os quais buscam medidas de frear a ocorrência de doenças reemergentes. Nesse contexto, não há dúvidas de que o reaparecimento de doenças erradicadas é um desafio no Brasil o qual ocorre, infelizmente, devido não só à negligência governamental, mas também a falta de engajamento.      Em primeira instância, é preciso observar que, a questão constitucional e a sua aplicação estão entre as causas do problema. Tal fato se reflete nos escassos investimentos governamentais em políticas de habitação e saneamento básico, medidas que reduziriam o índice de reaparecimento das doenças reemergentes, visto que, muitas delas possuem a transmissão oral-fecal, como forma de contágio. Logo, segundo Aristóteles no livro "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo verifica-se que esse conceito encontra-se deturpado no Brasil à medida que o alto índice de doenças reemergentes representa um entrave para a concretização de tais preceitos.               Outrossim, outro ponto relevante, nessa temática, é o escasso comprometimento social da população. De acordo com o sociólogo Zygmunt Baumann, o fim das utopias -após a Primeira Guerra Mundial- provocou o escasso engajamento social em prol de objetivos futuros. como consequência disso, não se veem ações efetivas, por parte da população, para se combater o reaparecimento de doenças erradicadas, visto que o armazenamento irregular de água e a prática sexual sem proteção são feitos e aceitos culturalmente entre os brasileiros. Logo, a falta de conscientização e mobilização popular intensifica a reincidência da Dengue e Sífilis, por exemplo. Percebe-se, com isso, uma modernidade líquida, em que nada é consistente e pensado em longo prazo.  Fica evidente, portanto, que a reincidência das patologias reemergentes é fruto de políticas habitacionais mal elaboradas e são intensificadas nos hábitos coletivos. A fim de que essa situação seja revertida, o Executivo Federal, por meio do Ministério das Cidades, deve estabelecer um plano nacional de habitação regular, o que poderia ser feito por mapeamento das regiões mais afetadas por doenças atreladas à pobreza, criando conjuntos habitacionais e fornecendo saneamento. Como já dito pelo pedagogo Paulo Freire, a educação transforma as pessoas, o Ministério da Educação (MEC), deve instituir, nas escolas e nas comunidades, palestras incluindo a participação discente, docente e familiar, mostrando a importância da sociedade na luta pela construção de um mundo melhor. Desse modo, a realidade distanciar-se-á do mito grego e os Sísifos brasileiros vencerão o desafio de Zeus.