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Enviada em: 16/06/2018

Macunaíma - nascido no fundo do mato virgem, filho do medo e da noite - dizia que os males do Brasil são muita saúva e pouca saúde. Hoje, relativamente à saúva, não se pode dar razão ao herói sem nenhum caráter; quanto à saúde, todavia, o país ainda segue a braços com os problemas. Um deles é a recorrência de doenças que, havia algum tempo, eram tidas como erradicadas. Não se pode aceitar que a obra de Mario de Andrade seja, hodiernamente, um esboço do país.       Com efeito, o acelerado avanço da tecnologia na área médica, esperava-se que diminuíssem os casos de doenças infecciosas. Ocorre que o imenso crescimento dos centros urbanos - genialmente chamado por Milton Santos de macrocefalia urbana - e o surgimento de novos agentes infecciosos, entre outros fatores, frustraram aquela expectativa otimista e provocaram o ressurgimento de certos males (como a dengue e o cólera), os quais, segundo estudos, estão associados a alterações ambientais, migrações, crescimento urbano sem o correspondente aumento da infraestrutura das cidades, desmatamento e aquecimento global.       Essa conjuntura é particularmente desfavorável ao Brasil, haja vista as dimensões continentais do país, as imensas discrepâncias quanto ao desenvolvimento econômico-social das regiões (as diferenças que suscitam migrações) e a inconteste perda da capacidade financeira sofrida pelo Estado, que, ao longo dos anos, assumiu funções demais sem ter condições financeiras para fazer frente a elas. O jornalista Joelmir Betting resumia a situação em uma frase genial: "Políticos brasileiros não veem, ou fingem não ver, que a verba é muito menor do que o verbo, nem que o discurso é muito mais fácil que recurso".        A solução do problema, portanto, passa, também, por um revisão do papel do Estado, que deve priorizar as atividades que beneficiam toda a população, mormente a menos favorecida economicamente. No caso específico das doenças reemergentes, é crucial detectá-las precocemente. Médicos, enfermeiros, veterinários e demais profissionais da área devem ser capacitados para não apenas identificar casos suspeitos, senão também para auxiliar no processo de desencadeamento das medidas de controle. Ademais, urge fornecer a epidemiologistas as condições que facilitam as investigações de campo e as que agilizam a comunicação e a consequente tomada de decisões. Outra medida de fundamental importância é o fortalecimento das atividades de vigilância em saúde (ambiental e sanitária, principalmente). Com isso, deixar-se-á no passado a discussão - macunaimicamente proteladora - sobre a esfera competente para enfrentar certa enfermidade: o município, o estado, ou a federação. "Ai... que preguiça!"