Materiais:
Enviada em: 14/06/2018

Em um episódio da série americana "House", uma paciente gera alarde no hospital por apresentar sintomas de varíola, doença erradicada desde 1980. Infelizmente, esta situação, de reincidência de doenças controladas, não é apenas fictícia, haja vista a recente epidemia de febre amarela no Brasil. Desse modo, deve-se analisar como a visão capitalista das indústrias farmacêuticas e o desconhecimento da população brasileira e favorecem o ressurgimento de doenças erradicadas.       É relevante abordar, primeiramente, que um dos motivos que levam à reincidência de doenças erradicadas é o descaso dos laboratórios farmacêuticos em relação às doenças negligenciadas, isto é, enfermidades características de países subdesenvolvidos. De acordo com a revista científica "The Lancet", apenas 4% dos medicamentos novos registrados nos últimos 15 anos são destinados ao tratamento dessas mazelas, ainda que 1,5 bilhão de pessoas sejam afetadas no mundo. Tal desinteresse decorre do fato de que as doenças negligenciadas, por acometerem populações pobres, não oferecerem retorno financeiro. Consoante com tal motivo, pode-se citar o caso da dengue, doença que já foi considerada erradicada e, hoje, é endêmica. Essa mazela somente obteve atenção dos laboratórios ao tornar-se lucrativa frente ao crescente número de casos nos últimos anos. Com efeito, apenas em 2017 uma vacina foi aprovada, apesar de a dengue assolar o Brasil há quase 4 décadas.       Além do fato supracitado, observa-se que o desconhecimento da população também é um desafio a ser superado. As doenças erradicadas, por não apresentarem risco imediato, fornecem uma falsa segurança às pessoas, tornando-as negligentes. Em decorrência deste comportamento, há queda nas imunizações: muitos adultos creem que, por não haver novos casos de determinada doença, não existe a necessidade de vacinar as crianças. Esse pensamento não apenas mostra-se extremamente equivocado, como também tende a facilitar a reincidência de doenças na forma de epidemias. Como exemplo, tem-se o sarampo, cujo último surto no Brasil ocorreu devido uma grande queda de vacinações, após mais de 10 anos com 95% das pessoas imunizadas.      É evidente, portanto, a necessidade de intervenções para que as doenças erradicadas ou controladas não voltem a preocupar os brasileiros. Seria interessante que o Ministério da Saúde, por meio de contratos com instituições de pesquisa, financiasse projetos para o desenvolvimento de moléculas voltadas ao tratamento de doenças negligenciadas, a fim de viabilizar a criação de vacinas para a erradicação dessas moléstias. Ademais, é função do Ministério da Saúde, por meios midiáticos, criar campanhas informativas a respeito da importância das vacinas e dos cuidados de higiene básicos com a intenção de evitar reincidências de enfermidades já controladas.