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Enviada em: 27/05/2018

Durante a Idade Média, à luz do misticismo que lhe é peculiar, difundiu-se a crença de que o sangue seria uma fonte de poder, força vital responsável pelo equilíbrio corpóreo. Na contemporaneidade, embora muito se tenha avançado na seara da ciência, inúmeros tabus persistem relacionados à transfusão sanguínea. Assim, dado o potencial salvador de tal procedimento, urge explicitar premissas culturais e sociais que fomentam estigmas, a fim de dissolver estruturas que limitam a saúde pública.    Em primeiro lugar, convém analisar costumes arraigados que instigam o desconhecimento. De acordo com Francis Bacon, a humanidade é influenciada por ídolos da tribo, construções ideológicas falhas consolidadas pela transmissão repetitiva no âmbito coletivo. Nessa perspectiva, o maior entrave para efetivo avanço do homem é a criação de noções que, mesmo inválidas, são tomadas como verdades absolutas. Assim ocorre quanto a transfusão de sangue, cujos processos pouco são conhecidos e, ainda vistos como impuros ou dolorosos, são objeto de desconfiança.    Ademais, é importante considerar arquétipos fomentados pela prática social que, consolidados legalmente, segregam a já restrita gama de doadores. O Ministério da Saúde, por meio de portarias jurídicas, impediu transferências sanguíneas realizadas por cidadãos homoafetivos, em um período de 12 meses após relações sexuais. Proposituras dessa ordem, ocultas como medida de segurança, são, contudo, falácias que comprovam abismos sociais responsáveis por potencializar a problemática. Nesse ínterim, delimitando a validade de doações, ferem-se não apenas direitos fundamentais, mas a própria essência da causa médica - o zelo para com todas as formas de existência.   Torna-se evidente, portanto, a necessidade de promover discussões mais aprofundadas que dissolvam asserções limitantes da vida. Faz-se imperioso que o Ministério da Saúde, associado a instituições educacionais, promova debates desse nível, a fim de elevar o interesse e participação popular. Para tanto, cabe estabelecer nas escolas programas de educação à saúde, de modo que seja possível ofertas aulas, palestras e oficinas responsáveis por fornecer aos discentes informação útil sobre tal temática. Nesse sentido, cabe convidar profissionais da área para que possam ser desconstruídas noções errôneas e, por conseguinte, seja incentivada a doação. Outrossim, desmistificar a origem do sangue, garantindo legalmente que todos os cidadãos interessados possam ser candidatos a doar é importante medida que compete ao Judiciário. Dessarte, pela instrução e respeito, será possível modificar a indiferença que impede a difusão de um bem já reconhecido pelos medievos.