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Enviada em: 31/05/2018

O sangue inteiro - ou seus componentes - pode ser usado para tratar diversas patologias, além de doenças oncológicas variadas que necessitam de transfusão frequentemente. Esse tecido conjuntivo também é essencial em cirurgias eletivas e situações de emergência, como acidentes, conflitos e catástrofes naturais. Entretanto, mesmo com a crescente demanda por sangue devido ao envelhecimento da população e ao aumento da complexidade da medicina, o Ministério da Saúde (MS) aponta que apenas 1,8% da população brasileira doa, efeito decorrente de restrições equivocadas e defasagem estrutural.        Sabe-se que, para doar, o indivíduo precisa atender requisitos relativos à faixa etária, peso e condições de saúde, com destaque para a sexual. No entanto, a limitação de doadores homossexuais, por serem considerados um grupo de risco no tocante às doenças sexualmente transmissíveis, além de impedir a arrecadação de cerca de 19 milhões de litros anualmente, possui caráter ultrapassado, visto que, dados do próprio MS em 2014 mostraram que heterossexuais adultos representam a maior parcela nas novas notificações de infecção pela Aids. "Não é a relação entre homens que incrementa o risco de transmissão de HIV, mas o sexo anal. É esta pratica que amplia em 18 vezes o risco de transmissão de HIV, seja praticada entre homossexuais ou heterossexuais", diz o Conselho Federal.       Simultaneamente, o setor hemoterápico no Brasil apresenta carência de investimentos, que vão desde falta de campanhas de incentivo à doação e informações acerca do processo, até escassez de infra-estrutura. Especialistas apontam a falta de conscientização da população como um dos principais limitadores da ação em questão, além de gerar mitos referentes ao ato. Somado a isto, o sistema não dispõe de recursos para investir em agências transfusionais - espécie de filial dos hemocentros dentro dos centros médicos, que funcionam como agente comunicador -, bem como baixa disponibilidade de unidades móveis de coleta, acarretando numa atuação estática e insatisfatória.        Portanto, diante do exposto, se faz necessário criar a cultura de que o ato de doar é social e contínuo, e deve ser promovida desde a infância, que é onde se inicia a consciência de cidadania do individuo. As escolas devem promover palestras e atividades lúdicas de encorajamento à doação, e seus benefícios. Ademais, que o MS reavalie as normas e proibições quanto ao ainda grupo de risco, os homossexuais, desta vez pautado em dados estatísticos mais atualizados, e exemplos de países como México, onde não se restringe esse tipo de doação e desde 2009 não houve transmissão de HIV pela via sanguínea. Finalmente, é imprescindível que o Estado estimule a coleta, aumentando o número de hemocentros e unidades móveis em locais estratégicos, como universidades.