Enviada em: 08/07/2018

Desconstruindo Padrões     Em um dos seus poemas, Carlos Drummond de Andrade utiliza a expressão "tinha uma pedra no meio do caminho" como metáfora para os obstáculos presentes na vida do eu lírico. De maneira análoga, existem empecilhos, como a existência de normas excludentes e de estigmas - impulsionados pela falta de conhecimento e de exemplos próximos - que impedem a efetividade da doação de sangue, no Brasil.     A priori, durante o período que antecedeu o século XX, no Brasil, grande parte da população, como mulheres e analfabetos, não tinham o direito ao voto. Paralelamente a isso, hodiernamente, os homossexuais são impedidos de tornarem-se doadores de sangue, caso possuam vida sexual ativa, ainda que o critério seja a qualidade do sangue e, assim, têm sua participação na sociedade brasileira limitada impedindo, então, o crescimento de doadores, voluntários ou não.     A posteriori, em conformidade com o habitus, cunhado pelo sociólogo Pierre Bourdieu, o indivíduo cresce em meio determinada ideia, errônea ou não, adota-a de modo imperceptível e a reproduz. Assim, existem estigmas sobre a doação de sangue, no Brasil, que são propagados, principalmente, pela ausência de informações. Somado a isso, segundo o filósofo Aristóteles, o ser humano torna-se virtuoso ou viciado por meio do hábito, dessa forma, a reduzida prática de doar sangue, no país e/ou a inexistência de exemplos próximos de doadores, contribui, ainda mais, para a manutenção de concepções equivocadas.      Destarte, torna-se evidente a necessidade de medidas que solucionem a problemática. Logo, é dever do Ministério da Saúde, juntamente com a força do movimento LGBT e dos hemocentros, garantir a doação de sangue por homossexuais - já que o enfoque deve ser na qualidade do sangue e não na identidade sexual - por meio de reivindicações do tripé e de uma proposta de emenda constitucional para tal. Além disso, o Ministério da Educação, aliado com as famílias, as escolas e as redes midiáticas, deve proporcionar debates sobre a doação de sangue, sua importância, verdades e mitos e promover a criação de campanhas semestrais nas escolas, entre os alunos, seus familiares, professores e demais servidores, a fim de efetivar a discussão sobre o assunto. Ademais, as famílias precisam, por meio de exemplos práticos, tornar a doação de sangue uma medida de praxe, além de desconstruir conceitos distorcidos sobre ela. Dessa maneira, os obstáculos para a doação de sangue, no país, seriam reduzidos.