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Enviada em: 11/08/2018

Para o filósofo alemão Hegel, as ideias e as verdades são construídas no tempo e no espaço, ou seja, são mutáveis de acordo com a construção dialética da história e as características culturais de uma comunidade. Dessa maneira, é possível estabelecer um paralelo entre os costumes vigentes em uma sociedade e sua realidade social e histórica, como pode-se observar nos paradigmas acerca da doação de sangue no Brasil, que carrega resquícios preconceituosos e culturalmente hereditários.       Em contrapartida com outros países que foram vítimas de catástrofes naturais ou envolvidos previamente em grandes guerras, como o Japão e a França, o Brasil não possui - devido a sua baixa  experiência nesses quesitos - a característica de preocupar-se com medidas preventivas. Assim, o ato de doar sangue não é discutido com extrema relevância, uma vez que não foi consolidado como uma prática que contribui para a segurança nacional, para a importância de salvar vidas e que é essencial para o exercício da cidadania. Contudo, a prática necessita de uma atenção dos setores públicos e da sociedade principalmente devido ao aumento da expectativa de vida dos brasileiros, que segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dobrou desde 1900, e pode potencializar a demanda dos bancos de sangue do país.     Associado a isso, destaca-se o preconceito envolvido na doação de sangue dos homens homossexuais, que precisam ter um intervalo de um ano entre um ato sexual e a doação a fim do perigo da contração de HIV. No entanto, a HIV  e outras doenças sexualmente transmissíveis atingem pessoas independentemente da orientação sexual, o que mostra mais uma construção histórica de um país formado por uma base religiosa heteronormativa devido à colonização portuguesa catequizadora, garantindo a influência da homofobia na prática da doação de sangue.        Destarte, é necessário que o Ministério da Saúde, mediante verbas cedidas pelo Estado, invista em uma maior divulgação e estímulo à discussão acerca da importância da doação de sangue nacionalmente, por meio da criação de fóruns de debates onlines ministrados por especialistas da saúde e historiadores, a fim de, além da difusão da necessidade de haver a doação de sangue, auxiliar na desconstrução de paradigmas históricos que retraem a ampla conscientização da indispensabilidade da prática virar um hábito social. Além disso, que o Ministério da Saúde, juntamente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), revejam a proibição da doação de sangue pelos homossexuais, para que a cidadania não seja mais restringida devido a exclusões com fundamentos preconceituosos históricos. Espera-se, portanto, que a atitude de doar sangue seja consolidada como uma prática necessária e cidadã.