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Enviada em: 15/08/2018

O baixo número de doadores de sangue remete ao que o escritor Jean Baudrillard abordou em “À sombra das minorias silenciosas”, com a visão de uma sociedade irracional e segregada. Analogamente, a indiferença humana em torno da área da saúde estabelece limites nas relações entre os homens. Essa negligência social afeta, inclusive, a população brasileira. É nesse viés que a problemática dos desafios para doação de sangue aponta os desvios comportamentais da sociedade nos atuais paradigmas do Brasil.       As causas da falta de doadores, certamente, podem ser analisadas sob perspectivas sociais e humanas, tendo em vista que se tornaram reflexos da perpetuação do individualismo no tecido social brasileiro. O desafio principal é romper com mitos e superstições atreladas à temática. Muitos indivíduos apresentam medos diversos como de desconforto ou de adquirirem doenças infecciosas por meio dos instrumentos utilizados na doação. É devido a isso que o Brasil não atinge o valor ideal de doadores de sangue, já que a ONU sugere no mínimo 3% da população e o país apresenta, somente, 1,8%. Dessa forma, percebe-se, na área da saúde, uma falência de ideologias.Não estaria, então, a falta de consciência coletiva contrapondo a vida social?         Irrefutavelmente, o perfil dos doadores destaca como os indivíduos, de maneira inconsciente, são corrompidos pela própria sociedade. É evidente que algumas pessoas se deslocam até os hemocentros, se passando por doadores, somente para obter os exames laboratoriais. Essa atitude coloca os receptores em risco de contraírem doenças sexualmente transmissíveis. Sob esse contexto, é certo declarar que a população brasileira apresenta uma completa inversão de valores. Além disso, seis em cada dez doadores são voluntários. Os demais são doadores de reposição, exclusivamente para amigos ou familiares necessitados. Dessa maneira, ao analisar as consequências da precariedade de doadores, pode-se dizer que há uma relação de interdependência entre o indivíduo e a sociedade, como teorizado pelo sociólogo alemão Norbert Elias.            Fica evidente, portanto, que os preceitos elementares entre indivíduo e sociedade, assegurados pela teia de interdependência de Elias, devem ser explorados de forma que a população brasileira adquira novos valores de cidadania acerca da doação voluntária. Nessa perspectiva, faz-se necessário que o Ministério da Saúde promova a criação de vídeos e de enquetes, por meio de plataformas digitais, com discussões e debates desenvolvidos por profissionais da área sobre doações de sangue, com o intuito de despertar a preocupação e o conhecimento dos brasileiros. Como dizia Skinner, autor norte-americano, a educação sobrevive mesmo quando todo o resto aprendido é esquecido.