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Enviada em: 23/08/2018

De acordo com o escritor Franz Kafka, a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana. Nessa perspectiva, um simples ato pode transformar e salvar várias vidas. Contudo, apesar de sua relevância, hoje o Brasil se depara com obstáculos relacionados à doação de sangue, os quais são edificados não só por meio da cultura individualista da sociedade moderna, mas também por restrições governamentais.       É preciso destacar, antes de tudo, o individualismo social como um agente que corrobora para a problemática. Segundo Bauman, sociólogo polonês, o individualismo tornou-se característico do mundo moderno, ocupando o lugar do coletivismo e da solidariedade. Esse aspecto da sociedade contemporânea é evidenciado diante da quantidade de doações de sangue, visto que, ao não se trabalhar o olhar empático pela causa, parcela da população prefere não efetuar a doação. Nesse sentido, a sociedade, influenciada por valores individualistas, dificulta a existência de uma cultura de doação de sangue no Brasil.       Outrossim, é indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema, manifestando-se no preconceito para com os homossexuais. Devido ao elevado número de contágio por doenças sexualmente transmissíveis entre homens com relações homoafetivas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu essa parcela da sociedade como sendo um grupo de risco. Desse modo, a lei exige que, para doar sangue, esses indivíduos devem estar em abstinência sexual por um período de 12 meses. Entretanto, a opção sexual não deveria ser um critério de seleção, haja vista que os heterossexuais também transmitem DSTs. Diante disso, essa classe fica à margem de exercer a sua solidariedade, agravando o problema da doação de sangue.       Torna-se evidente, portanto, que são necessárias medidas para transpor os obstáculos inerentes à doação de sangue. Desse modo, o Ministério da Saúde, em parceria com a mídia, deve trabalhar a ideia da importância da doação de sangue por de meio campanhas publicitárias, bem como os hemocentros devem investir na implementação de um sistema que envia SMS ao doador no momento em que seu sangue for utilizado para salvar uma vida, com o intuito de incitar o ato solidário da doação em toda a população. Ademais, o Governo Federal, junto a OMS, deve alterar as leis que excluem os homossexuais da doação e investir em aparatos tecnológicos, que averiguem com eficiência a saúde do indivíduo e a qualidade do sangue, para, assim, garantir o direito igualitário ao exercício da solidariedade e aumentar a taxa de doadores. Dessa forma, poder-se-á transformar o Brasil em um país desenvolvido socialmente, regido pelo respeito à dignidade humana vislumbrada por Kafka.