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Enviada em: 19/05/2018

Tendo em vista o trânsito das grandes cidades brasileiras, é possível relacionar o cenário urbano com um quadro clínico: assim como a AIDS, a mobilidade urbana tornou-se uma degradante patologia aparentemente sem cura. No entanto, surgiram as ciclovias, que, analogamente aos coquetéis antirretrovirais, minimizam os sintomas dessa doença social. O fato, porém, é que minimizar não é extinguir. Portanto, a questão é: o que fazer para evitarmos, de fato, que esse quadro alcance o estado terminal, tornando-se de vez, “imobilidade urbana”?        “Nós só pensamos quando nos defrontamos com um problema”. John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, proferiu o que, mais tarde, seria o esboço para o comportamento de alguns brasileiros. Os paulistanos, por exemplo, voltaram-se para o uso de bicicletas e notaram a importância das ciclovias apenas em 2010, quando 400 quilômetros das ruas de São Paulo foram tomados pelo congestionamento. Nesse sentido, viu-se a necessidade da ampliação do sistema cicloviário, que, em virtude da inadimplência administrativa do Estado, não ocorreu.        Outrossim, é de conhecimento comum que o uso de bicicletas em detrimento de automóveis traz uma série de benefícios, que dentre eles destacam-se a sustentabilidade e a locomoção amalgamada ao exercício físico. O fato, não obstante, é que, embora eficaz, o sistema de ciclovias não é o suficiente para sanar a chaga da mobilidade urbana, posto que a essência desse problema encontra-se vinculada ao passado político do país. Devido ao intenso desenvolvimento da malha rodoviária na primeira metade do século XX, JK e seus sucessores viram-se obrigados a expandir a indústria automobilística brasileira, o que, acrescido ao exagero com que o processo foi realizado, resultou na vigente cultura envaidecida dos automóveis, precursora do caos no trânsito.        Einstein disse que “uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio previne-o”. Portanto, como nossos antigos governantes não foram sábios, é necessário que os atuais sejam inteligentes e melhorem a locomoção nas cidades, dedicando mais verbas para o recrudescimento do sistema cicloviário e estimulando a indústria de bicicletas, para que, a curto prazo, seja possível trafegar nas vias públicas. Ademais, é imprescindível que o Estado diversifique os meios de transportes de cargas, implementando o sistema intermodal, igualmente, por rodovias, ferrovias e hidrovias, com o intuito de desinchar o trânsito enfermo do Brasil. Essa medida reduziria, expressivamente, o número de caminhões nas cidades, melhorando o fluxo de carros. Pronto. Eis a cura da doença.