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Enviada em: 19/08/2018

"A pátria que quisera ter era um mito". Lima Barreto, autor carioca, assim descreveu o fator que condicionou o fim de Policarpo Quaresma, protagonista da sua obra mais célebre. A morte do ufanista, nesse sentido, representou também o desfalecer do ideal de prosperidade para o Brasil, elemento que ultrapassa a literatura e encontra no déficit da mobilidade urbana sustentável um importante pilar. Dessa forma, a omissão cívico-midiática quanto à adoção de medidas para reduzir o caos urbano insere-se com um gatilho não mais apontado ao Policarpo, mas a todo o país.           Observa-se, em face dessa ideia, as insuficientes medidas governamentais para a promoção de um trânsito mais harmônico e sustentável. Em tal contexto, fica evidente a indisposição dessa esfera com projetos de efeito a longo prazo, uma vez que o tráfego em um país de dimensões continentais tem na malha rodoviária o seu principal meio de locomoção, contribuindo para a sobrecarga do território e a constante emissão de gases poluentes. Não por acaso, de acordo com os dados publicados pela Agência Nacional do Petróleo, o setor de transportes é o maior responsável por impactos na qualidade do ar. O posicionamento negligente dos setores de planejamento urbano diante da problemática, assim, contribui não apenas para o agravamento dos problemas ambientais e engarrafamentos, mas também evidenciam a contradição inerente a uma nação que tem o progresso como lema da sua bandeira.         É notório, além disso, o incentivo dos meios de comunicação de massa à aquisição dos carros de passeio em detrimento de bicicletas e meios de locomoção sustentáveis. Dessa maneira, ante a baixa qualidade dos transportes públicos, parcela da população encontra na compra de automóveis uma solução às lacunas deixadas pelo Estado. As propagandas, nesse sentido, analisam a problemática como um momento favorável à divulgação de veículos poluentes, mais acessíveis à classe média brasileira em comparação aos elétricos. Sob esse viés, a mídia encaixa-se como uma das "instituições zumbis" preconizadas por Zygmunt Bauman, uma vez que não cumpre seu papel social na medida em que coloca os interesses econômicos acima dos socioambientais.        Impende, pois, a criação de projetos que aproximem o Brasil ao país idealizado por Policarpo. É dever do Ministério dos Transportes, inicialmente, a ampliação da disponibilidade de transportes coletivos nos principais municípios brasileiros a partir da utilização de verbas da Receita Federal, associando-se aos canais televisivos – por meio de novelas e ficções engajadas – para incentivar à utilização dos veículos públicos, a fim de reduzir os engarrafamentos e as emissões de gases tóxicos. Como medida a longo prazo, tal Ministério deve promover, com o capital da União, a construção de ferrovias que interliguem as áreas mais populosas do território, visando diversificar os modais.