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Enviada em: 13/10/2017

No século XX, o Brasil privilegiou o modal rodoviário como alternativa de transporte, com objetivo de integrar o território e ampliar a industrialização com base no ramo automobilístico. Nesse ínterim, o próprio modelo ocidental de sociedade, configurado desde a Segunda Revolução Industrial, tipifica-se como a “civilização do automóvel”. Dessa forma, a utilização massiva de carros e a estruturação das cidades em função de tal meio cria uma problemática em torno da ineficácia da mobilidade urbana.    Sob essa conjetura, espaço geográfico e vias públicas são tomados por carros individuais enquanto o transporte coletivo é ignorado. Tal fato decorre de uma política histórica impulsionada na década de 1950, por Juscelino Kubitschek, na qual o país encontrou o alicerce para sedimentar uma “cultura automotiva”, que incentivou a aquisição de veículos motorizados e uma infraestrutura voltada ao uso do transporte individual. Dessa maneira, ao priorizar o modal rodoviário, meios alternativos são ignorados e, portanto, não recebem investimentos, conservando uma péssima infraestrutura, o que desestimula uma mudança nos hábitos do cidadão para a utilização destes. O que ocorre em razão tanto da superlotação e precariedade do transporte público, quanto pelo baixo número de veículos disponíveis.      Paralelo a isso, segundo o Departamento Nacional de Trânsito, existem 50 milhões de automóveis no país. Em consequência, agravam-se os congestionamentos, em especial nos grandes centros urbanos, o que resulta em dificuldades de deslocamento e aumento das horas perdidas no trânsito. Assim, o tráfego da população fica prejudicado, fato que contraria a liberdade de locomoção garantida pela Constituição. Por outro lado, tais fatores também implicam no agravamento de fenômenos como a degradação do meio ambiente - haja vista que carros emitem poluentes -, e pelo aumento da desigualdade social, da segregação espacial e do imobilismo. Logo, a qualidade de vida é afetada, pois, além de reduzir o tempo para outras atividades, o trânsito desencadeia sérias problemáticas.   Torna-se evidente, portanto, que medidas são necessárias para que a mobilidade adquira uma perspectiva sócio-antropológica. Dessa forma, convém ao Ministério das Cidades promover uma visão sistêmica do espaço urbano, que beneficie o transporte coletivo e o pedestre, com a ampliação da frota de ônibus, trens e metrôs, além de melhorar as condições das calçadas e da sinalização, e, assim, reduzir o uso de automóveis. Do mesmo modo, governos federal, estadual e municipal devem incentivar a utilização da bicicleta, mediante construção de ciclovias, isenção de impostos sobre o produto e implantação de bicicletas coletivas, a fim de reduzir os congestionamentos e os impactos ambientais. Destarte, como afirmou Jürgen Habermas: a sociedade é dependente de uma crítica às suas próprias tradições, pois, somente assim, é possível estabelecer mudanças que fortaleçam a sociedade.