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Enviada em: 03/10/2017

O século XX - batizado por Eric Hobsbawn de ''Era dos Extremos'' - desenvolveu transformações socioculturais de amplo espectro, entre elas, o êxodo rural. Como resultante da urbanização intensa, o século sucessor presenciou, em 2008, o surgimento de um mundo com população predominantemente urbana. No Brasil, as complicações desse processo cresceram exponencialmente pela conjectura de um país desenvolvido: improbidade administrativa e desigualdade social.       A Constituição Federal de 1988, baseada nos preceitos iluministas de liberdade, garante o direito à livre circulação. No entanto, tal liberdade é, no Brasil, estritamente vinculada ao poder de compra. Desde a abusiva passagem de ônibus até a romantizada aquisição do carro pessoal, o investimento necessário para usufruir adequadamente do direito de ir e vir remete à antiga democracia brasileira, quando o direito ao voto era restritivo com base na renda. A partir desse viés de planejamento urbano, o Estado, como observado por Marx, atende somente à classe dominante.       No ano de 1888, em situação análoga, o governo da época se mostrou pouco perspicaz em administrar a inserção social dos ex-escravos libertos pela Lei Áurea. Dessa forma, desenvolveu-se muitos dos problemas urbanos atuais como a ocupação desordenada e a favelização nos grandes centros. Hodiernamente, além da falta de estrutura originada nas mazelas históricas, há o inchaço populacional nas capitais dos estados brasileiros devido à centralização de oportunidades acadêmicas e laborais, gerando um paradigma insustentável quando há carência de transporte público adequado.       Infere-se, portanto, que se faz necessário algumas transformações estruturais para atender às novas necessidades de um mundo urbano. A priori, empresas devem interiorizar suas filias com o fito de levar oportunidades de estudo e trabalho para além das capitais e promover a reorganização populacional. Ao Estado, é imprescindível o oferecimento de transporte público de qualidade que paulatinamente decresça seu preço até se tornar livre de custo, conferindo coerência constitucional. Por fim, cabe às ONGs ambientais disponibilizar palestras com dados relevantes ao tema para diversos setores do corpo social de forma a desincentivar a romantização do uso de carros pessoais no cotidiano. Nesse caminho, o Brasil poderá frear o processo caótico da atual formação urbana nacional.