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Enviada em: 30/09/2017

Há quase meio século o Brasil lida com o desafio de garantir uma mobilidade operativa para os seus grandes centros urbanos. Constata-se que o transporte de massa, rápido e confortável mais comum é o automóvel - ou melhor, ''egomóvel''. Com efeito, a preferência por formas individualizadas de transporte apresenta-se como um dilema e mostra um retrocesso para uma nação com tantas possibilidades de diversificar suas formas de deslocamento.    No mundo moderno, o carro é um instrumento de liberdade e autonomia. Segundo um estudo feito pelos estudantes da USP, no imaginário social, o carro produz uma ilimitada mobilidade, já que permite ao seu usuário frequentar rapidamente qualquer espaço, sem as restrições de horários e, até mesmo, tempo. Ainda nesse processo, esse veículo é posto em contraste aos transportes públicos, os quais são dotados de estereótipos que delimitam a população que deles necessitam, bem como possuem um aspecto de inferioridade. Assim, um carro comprado para dinamizar o dia-a-dia se apresenta, muitas vezes, como sinônimo de estigma e sucesso pessoal.    Outrossim, ao mesmo tempo que possuir um carro próprio simboliza uma possível autonomia e autodeterminação do indivíduo, sinaliza também um grande impasse para a mobilidade urbana e para os níveis de desenvolvimento de um país. Oslo e Noruego, por exemplo, pretendem banir os carros até 2019, para isso estão investindo em um transporte público de qualidade; a Dinamarca conta atualmente  com metade da sua população indo ao trabalho de bicicleta - planejamento iniciado em 1960. Ou seguimos os passos dos países desenvolvidos ou continuaremos a ser um país periférico economicamente, um mero exportador de commodities, a apresentar resultados vergonhosos nos rankings mundiais e sem grandes ambições no cenário geopolítico internacional.     Para o antropólogo Roberto da Matta, o Brasil se embasa na cultura de aparências e não reconhece o limite entre liberdade individual e social, estagnando assim o seu desenvolvimento. Partindo desse pressuposto, é preciso produzir políticas públicas que tenham como base a coletividade em detrimento do individualismo. Ademais, é imprescindível que o aparato estatal assuma o seu papel no investimento aos transportes coletivos, a afim de que as pessoas possam usufruir desse meio de uma forma digna e segura. Por fim, a mídia possui também o seu lugar definidor no ideário da população, a influenciar o seu maior ingresso ao transporte público e apontar os seus principais benefícios do pessoal á comunidade global.