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Enviada em: 25/06/2017

“Ser artista na cidade / É comer um fiapo / É vestir um farrapo”. Escrita pelo cantor e compositor Chico Buarque, a letra da música “Cidade dos Artistas” destaca os desafios enfrentados pelos indivíduos que se dedicam integralmente à produção artística no contexto hodierno. Infelizmente, apesar da ampla diversidade cultural presente em território brasileiro, nota-se que a arte não vem sendo valorizada e reconhecida como tal. Dessa forma, convém analisar as vertentes que englobam essa problemática.     Claramente, é perceptível que o ensino precário da disciplina de artes nas salas de aula exerce papel preponderante na dificuldade de democratização do acesso à produção artística e, consequentemente, de difusão desta. A matriz curricular das escolas, por exemplo, ao privilegiar a transmissão de conhecimentos acerca das matérias tradicionais em detrimento dos saberes artísticos, impede a formação de um público-alvo que compreenda as linguagens, signos e códigos empregados pelos artistas em suas obras. Com isso, o consumo e a fabricação desses bens culturais ficam restritos a determinados setores da sociedade.     Outro aspecto a ser analisado é a insuficiência das políticas públicas de incentivo à produção artística brasileira. Fica evidente, na atualidade, que a Lei Rouanet, apesar de ter sido criada com a intenção direcionar investimentos para o financiamento de diversos projetos pensados por artistas, não tem cumprido o seu papel com êxito. Os casos de desvio de verbas estatais e o destino de subsídios apenas para obras de artistas já renomados em prejuízo daqueles que carecem de recursos para colocar suas ideias em prática, são provas disso. Portanto, verifica-se que esse contexto funciona como um desestimulador da produção cultural popular.     Destarte, diretrizes que formulem mudanças são imprescindíveis para reverter esse cenário. Assim, as escolas devem aprofundar esforços para incluir o ensino efetivo da arte em sua carga horária por meio de oficinas criativas e saraus, a fim de despertar a sensibilidade dos estudantes e desenvolver nestes o apreço pelo âmbito artístico. O Estado, por sua vez, deve aprimorar os meios de canalização e financiamento dos artistas nacionais, contribuindo para a democratização da arte. Outras medidas devem ser tomadas, mas, como disse Oscar Wilde, “o primeiro passo é o mais importante”.