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Enviada em: 16/03/2018

Ferreira Gullar, em um de seus célebres pensamentos, disse: "A arte existe porque a vida não basta." Nesse sentido, a produção cultural é parte inerente de uma existência plena. Entretanto, no Brasil, o acesso à cultura ainda encontra desafios, os quais corroboram o afastamento de determinada parcela da população em relação a esses condicionamentos simbólicos. Consonância de uma separação social histórica e da impregnação do pensamento capitalista, essa realidade exige medidas urgentes. Em abordagem inicial, constata-se que a má distribuição de renda e a falta de oportunidades aos mais pobres causou o distanciamento das áreas periféricas, não só física, mas também culturalmente. Isso porque fica claro, nos estados brasileiros, a concentração de teatros, cinemas, bibliotecas e outros espaços culturais no centro das grandes metrópoles. Nessa lógica, a parcela social desfavorecida monetariamente fica afastada de importantes meios de contato com a cultura nacional e internacional , visto que os preços de ingresso a esses locais, muitas vezes, são exagerados. É o chamado "apartheid cultural". Vale ressaltar que, segundo dados do IBGE, mais de 70% das cidades brasileiras não apresenta tais locais de integração cultural.  Outro ponto a ser considerado, ainda, relaciona-se ao conceito de Indústria Cultural, dos sociólogos Adorno e Horkheimer. Conforme os pensadores, a forma de fazer cultura atualmente tem o lucro como finalidade única e exclusiva. Isso significa que, quando se discute sobre o acesso às produções culturais, fica evidente que a cultura voltada para o mercado oprime as massas por meio da imposição de comportamentos, substituindo a autonomia crítica pelo conformismo. Nesse ínterim, a segregação se faz cada vez mais presente, uma vez que passa a existir o abismo entre classes resultante do capitalismo, e a população carente se vê menos ainda no direito de se agregar às produções culturais deturpadas.  Urge, portanto, que governo e instituições educacionais cooperem para combater o impasse. A princípio, a prefeitura de cada município deve incentivar a universalização cultural, por meio de eventos gratuitos mensais que englobem sessões coletivas de filmes e teatros nacionais, a fim de criar o hábito e o interesse nos aspectos simbólicos do país. Ademais, cabe às prefeituras, ainda, disponibilizar bibliotecas públicas, com livros clássicos nacionais e internacionais, com o intuito de facilitar o acesso ao saber. Por fim, as escolas, como importantes formadoras críticas dos indivíduos, devem estimular os alunos com projetos de música, arte e teatro, com a finalidade de despertar o desejo de lutar pelo direito do acesso aos aspectos culturais do país. Desse modo, como Gullar bem colocou, a arte e a vida estarão anexadas como um inteiro para toda a população, de forma democrática.