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Enviada em: 27/09/2017

Na música "Geração Coca-Cola", a banda Legião Urbana faz uma crítica ao consumismo excessivo que prevalecia nos anos 80. O trecho: "Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurram", ressalta a influência de outros nas decisões de compra. Embora passadas três décadas, a conjuntura hodierna nacional demonstra que o consumo descomedido é, ainda, um grave problema à sociedade.  Nesse contexto, há dois fatores que não podem ser negligenciados, como a transmissão de hábitos sociais e padrões preestabelecidos.       Em primeira análise, cabe pontuar que o compartilhamento de costumes e atitudes favorece a perpetuação do problema. Para Émile Durkheim, o fato social é a maneira coletiva de agir e de pensar, dotado de exterioridade e coercitividade. De maneira análoga, percebe-se que a teoria do sociólogo aplica-se à realidade brasileira, haja vista que, se o indivíduo é exposto à condutas consumistas precipitadas e supérfluas, tende a adotá-las e repassá-las às novas gerações. Dessa forma, as mazelas decorrentes desse processo aumentam, como é comprovado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), onde 56,6% das famílias brasileiras encontravam-se endividadas em 2016.        Ademais, convém frisar que é nos padrões de comportamento que assenta outra causa desse mal. O "Estilo de vida americano", campanha utilizada pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria, que ditava as regras de consumo dos norte-americanos, tem hoje, no Brasil, uma versão similar. Muitas pessoas, na tentativa de sustentar um modelo de vida que as façam parecer bem sucedidas, fazem compras sem planejamento e sujeitam-se à dívidas que crescem de maneira exponencial. Por conseguinte, o problema persiste.       Em virtude dos fatos mencionados, entende-se que a amenização dos efeitos decorrentes dos maus hábitos de consumo dos brasileiros só ocorrerá como a mobilização civil e estatal. É mister que o Ministério do Desenvolvimento Social promova a conscientização da população, com o financiamento de campanhas na mídia que explicitem as complicações de um endividamento. Tal abordagem deve ser feita, sobretudo, em novelas e no intervalo de programações infantis, para que o povo faça uma melhor assimilação, e as crianças sejam, também, contempladas. Outrossim, cabe ao próprio corpo civil precaver-se de endividamentos, ao planejar suas compras com antecedência, controlar o impulso ao lidar com promoções e evitar pagamentos sob taxas de juros. Destarte, poder-se-á afirmar que o Brasil oferecerá os mecanismos necessários à mitigação dessa problemática, e a crítica de Renato Russo será restrita ao passado.